O Bruno é engenheiro civil, tem 44 anos e conhece-me desde que eu nasci. Já saiu há 7 anos de Portugal por causa da crise económica, ainda mais agravada no setor da construção, mas só está no Gana desde Outubro passado. Antes disso esteve em Cabo Verde durante mais de três anos e outros dois em Angola, voltando às origens por breves períodos, enquanto espera pela próxima obra. Por isso podemos dizer que já tem muita experiência de África. Apesar de não ser um destino turístico pareceu-me interessante saber como vivem os expatriados neste canto do mundo.

Como foi chegar a Accra? Que expectativas tinhas da cidade e do país antes de aí chegar? A realidade que encontraste parece-se com essas expectativas?

Ao fim de 7 anos em África começamos a entender um pouco o que este continente é e que pontos têm os vários povos africanos em comum. Já não vinha com expectativas pois sabia de certa forma o que me esperava, uma vez que Luanda não é muito diferente. Accra é das cidades africanas mais ocidentalizadas e tem bastantes aspectos de vivência comuns com a Europa, o que torna mais fácil a vida de qualquer expatriado ou emigrado.

Do que mais gostas em Accra?

Accra tem um povo maioritariamente simpático e que aceita bem os portugueses (viva o Ronaldo!!!). Existe uma comunidade bastante enraizada de libaneses (alguns já na 4ª geração), mas é acima de tudo uma cidade surpreendentemente cosmopolita onde vivem até neo-zelandeses, entre outras nacionalidades do mundo inteiro. Tenho feito amizades com gente de todo o mundo: brasileiros, espanhóis, libaneses, turcos, albaneses, gregos, italianos, americanos, etc… e de facto o que mais gosto em Accra é a convivência com estas pessoas! A titulo de exemplo um dos casais com quem mais privo, ela é alemã e católica e o namorado é turco e judeu.

E de que menos gostas?

Accra, como praticamente todas as cidades africanas, tem os mesmos ingredientes desagradáveis: a pobreza, a polícia que gosta de extorquir, a falta de espaços culturais, tudo o que comemos é importado… Mas o mais desagradável para mim é o facto de ser um país costeiro, viver numa cidade costeira, e este povo não valorizar o mar! As praias são sujas, cheias de lixo que os barcos despejam junto à costa pois não há patrulhamento… Não há uma marginal aproveitada em Accra, com restaurantes e espaços lúdicos. Apenas um areal imenso e sujo com construções abandonadas (algumas enormes).

Como caracterizas os ganeses?

Os ganeses são um povo amistoso. Gostam de pintura, escultura e acima de tudo têm um gosto fora do comum a vestir! São muito sindicalistas no trabalho, conduzem mal e depressa, e dividem-se entre cristãos e muçulmanos. De uma forma geral educados, falam um dos 58 dialetos espalhados pelo país (em que até há palavras portuguesas misturadas) e sempre um inglês sofrível e difícil de perceber.

Como é um dia normal para ti no Gana?

Os meus dias dividem-se pelo trabalho, durante a semana, e lazer, nos fins de semana. Um dia normal de semana começa com o meu pequeno almoço, de cereais com café, e chegar à obra às 8 da manhã. Vivo pertíssimo do trabalho, numa zona designada Airport Residential, num condomínio fechado. Almoço sempre com os meus colegas em casa e ao final do dia jantamos num dos restaurantes menos caros e mais perto de casa, para depois ir descansar.

Por vezes há um cocktail numa embaixada, outro de empresas num hotel, ou simplesmente uma fugida ao Afrikiko às 4as ou 5as para dançar salsa, kuduro, quizomba etc. em ambiente puramente africano.

Nos fins de semana os grupos de amigos juntam-se em casa, na piscina. Ou vai-se até Ada, à ilha deste ou daquele (casas de libaneses cheios de $$$) ou simplesmente, e com paciência para acordar bem cedo e fazer duas horas de estrada, vai-se a uma praia minimamente decente.

À noite, e por norma ao sábado, janta-se num restaurante mais repimpas e dá-se um pulo ao Skybar para beber uns copos, estar com amigos e dançar. Para os mais ‘duros’ a noite continua na discoteca Carbon até às 6 da manhã.

Para quem queira visitar Accra, o que sugerias visitar?

Do que conheço, creio que apenas os mercados valem a pena visitar. O maior é no bairro de Osu onde se pode ver de tudo: vestimentas típicas africanas, colares, brincos, estátuas, quadros, etc… De resto é a “wild life” dos bares e restaurantes como os já mencionados.

E quais os teus locais preferidos para comer?

Os meus restaurantes favoritos são o Accra Polo Club, o Le Magellan e o La Chaumiére. Perto de mim há uma pastelaria que se chama o D’Café que tem uns óptimos croissants e sumos detox com gengibre e beterraba, onde tomo quase todos os fins de semana o pequeno-almoço.

Tens algumas dicas para nos oferecer de como poupar dinheiro em Accra?

Para se poupar dinheiro em Accra é imprescindível comer sempre em casa. Há vários supermercados, uns mais em conta que outros, e geralmente para se ter tudo o que se gosta é necessário ir a mais do que um. O custo de vida aqui é similar a Portugal, já fora da cidade paga-se menos, até na gasolina, e os supermercados também são mais baratos.

Não é aconselhável comprar comida de mercado, a não ser que já se viva em África há muito tempo e se conheçam as pessoas. Eu todos os dias como fruta cortada numa tenda em frente à obra. A vendedora até já me trás a embalagem com ananás e papaia ou banana ao escritório – chama-se Confort e é muito simpática. A fruta é maravilhosa e ela tem o cuidado de usar luvas, lavar as facas, etc… há um mínimo de higiene, imprescindível nestas coisas.

Com que temos de ter mais atenção ao visitar a cidade?

Com a polícia, sem dúvida! Para os que fumam, atenção: o povo ganês é muito fundamentalista com o tabaco. A polícia multa quem vai a fumar dentro do carro, se o vir de janela aberta… é ridículo, atendendo à poluição automóvel, mas é assim. Também não se pode fumar na rua, só em locais identificados para o efeito. De resto é o normal em África, param os brancos porque são o alvo mais fácil e extorquem dinheiro por qualquer motivo. Mas ainda assim Luanda era bem pior neste aspecto!

Em que zonas da cidade devemos procurar hospedagem e porquê?

Não há hotéis baratos! Nada custa menos de 150 USD por noite e mesmo a este preço é difícil. Não convém esquecer que o Gana não é um destino turístico e não se entra no país sem um visto, coisa que actualmente é bastante difícil de se obter.

Agradeço-te pelo teu texto, Bruno e até à tua próxima visita a Lisboa!

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