Como vos expliquei no último post, marquei um voo para o Luxemburgo pois tenho dois amigos que lá trabalham. Mas os dois vivem em Metz, a cerca de uma hora de comboio a sul deste pequeno país, e estudaram e viveram em Nancy, a outra hora de comboio a sul da cidade onde vivem. Como quase toda a gente, eles só tinham disponibilidade para passear comigo ao fim de semana, pelo que nessa sexta feira planeei ir a Nancy e no dia seguinte eles poderiam então mostrar-me a cidade onde vivem. Neste post deixo-vos então as minhas dicas do que ver em Nancy, seguindo as indicações do Antoine e da Sofia.

Cheguei a Nancy de comboio e logo à frente da estação pude ver a famosa Brasserie l’Excelsior, um belíssimo exemplo de arquitectura Arte Nova. Atravessando a rua tínhamos também uma confeitaria com todos os bolinhos e doces típicos da região, como as Madeleines, os rebuçados de bergamota ou os Macarons, mas não os que conhecemos habitualmente, antes umas bolachinhas redondas com sabor a amêndoa. Fiquei logo com vontade de levar para os meus anfitreões, ainda bem que se encontrava mesmo à frente da estação, ideal para não ter de carregar com os doces durante todo o dia.

O primeiro ponto de paragem obrigatória é a Place Stanislas. Esta e as vizinhas Place de la Carrière e de l’Alliance são Património Mundial da UNESCO e conseguem transportar-nos no tempo de volta ao século XVIII, quando Stanislaw Leszczynski, duque de Lorraine, inaugurou estas praças, ficando a cidade conhecida como a “dos portões dourados”.

A Câmara Municipal ocupa todo o lado sul da praça. A Ópera de Lorraine e o Grand Hôtel de la Reine ficam no lado leste, em frente ao Museu de Belas Artes. Ao norte estão dois edifícios de um andar conhecidos como Basses Faces e o Arco do Triunfo que nos leva à Place de la Carrière. Ainda na Place Stanislas podíamos encontrar os Jardins Efémeros, uma instalação botânica que se realiza todos os anos entre o final de Setembro e o início de Novembro.

A Place de la Carrière é na verdade uma praça medieval, localizada na cidade velha e usada como picadeiro, para treino de cavalos e torneios. No século XVIII, o Palácio do Governo foi construído para o intendente, ou representante do governo francês. O arquiteto de Stanislaw, Emmanuel Héré, remodelou todas as fachadas da praça e construiu casas geminadas nas esquinas. Quatro fileiras de árvores, unidas em duas compridas copas paralelepipédicas, percorrem toda a extensão da praça, que também é decorada com pequenas fontes com querubins. A Place de la Carrière marca a passagem para a cidade velha e leva-nos ao Palácio dos Duques de Lorrain, que hoje em dia alberga o Museu Lorrain, mas que está fechado temporariamente.

Chegamos então à Basílica de Saint Epvre, que tentei visitar a várias horas do dia, mas sem sucesso. Não me importei muito pois estava a adorar percorrer as ruas desta zona da cidade, um bairro anterior à remodelação urbanística que passou a cidade a régua e transferidor. Foi também por aqui que almocei, num lugar recomendado pelos meus amigos, mas que não adorei. Ainda por cima precisava urgentemente de ir à casa de banho e a do restaurante estava fora de serviço.

Continuei caminho, tentei vistar o Museu Lorrain, mas percebi que estava fechado temporariamente, pelo que admirei só a sua fachada e o belo trabalho decorativo no telhado e segui para norte em direcção à Porte de la Craffe, a fortificação mais antiga de Nancy. Foi construída nos séculos XIV e XV e mais tarde tornou-se numa prisão até ao século XIX. A Porte de la Citadelle, imediatamente atrás, duplicou as defesas da cidade neste ponto e la Craffe tornou-se um símbolo da Cidade Velha.

A ida à casa de banho tornava-se mais do que urgente, mas sou muito forreta e não queria gastar dinheiro a consumir algo num café para poder ter acesso a algo que é uma necessidade básica, até porque já o tinha feito, mas num sítio que afinal não a tinha disponível. Procurei uma casa de banho pública e encontrei uma no lado oposto ao Parc de la Pépinière. Esta mancha verde é o pulmão da cidade, o maior parque de Nancy, com 21 hectares, mas com a pressa que tinha para o atravessar, pouco vi.

O Parque está colado às Praças Património Mundial e de repente estava na Place d’Alliance. Construída no local da antiga horta do duque de Lorraine, a terceira das praças listadas pela UNESCO é também a menor e mais discreta. Mas não se pode perder a fonte inusitada com três velhos barbudos (que representam três rios) e mais árvores podadas cubicamente.

Os meus amigos Antoine e Sofia são arquitectos, estudámos juntos, pelo que eles me deram uma lista de alguns edifícios interessantes de ver, como a Faculdade de Arquitectura de Nancy, onde os dois estudarem, com os seus esguios pilares, mesmo à frente do canal de Nancy. Fui a pé, sempre à beira rio, até a um outro edifício de arquitectura muito peculiar e daí segui pela Rue de Saint Nicolas, outra das ruas antigas, que cruza a malha urbana de Nancy de forma desordeira, como era comum na Idade Média, de volta ao centro.

Quando sou eu a planear uma viagem, normalmente informo-me sobre os horários das várias coisas, mas como estava puramente a seguir as indicações dos meus amigos, algumas coisas falharam. Assim andei um pouco para a frente e para trás pela cidade. Já lá tinha passado anteriormente, mas estava fechada, pelo que voltei à Catedral Notre-Dame-de-l’Annonciation.

Embora não muito rica, tinha uma rapariga muito simpática à entrada, que nos dava uma pequena explicação da igreja e nos convidava a levar um panfleto, disponível em várias línguas mas não português, que explicava mais detalhadamente cada parte da catedral. Do que mais gostei foi da quantidade de luz que havia no seu interior!

Voltei também à Place Stanislas para a ver com outra luz e à de la Carrière, pois me lembrei que o Antoine me tinha falado de uma pequena rua escondida que valia a pena visitar, a Rue des Écuries. Esta rua dá acesso a garagens que se encontram entre as casas da Place de la Carrière e o Parc de laPépinière, mas o mais interessante nela, são as pontes metálicas que ligam as casas aos seus jardins e quintais, que se encontram por cima das garagens.

Voltei ainda mais para norte para visitar a Igreja des Cordeliers, pois percebi que essa tinha algumas peças do Museu Lorrain, incluindo uma maquete da cidade, com projecções das plantas e da evolução de Nancy ao longo dos séculos.

Terminei o dia “perdendo-me” nas ruazinhas bonitas de Nancy, a caminho da confeitaria à frente da estação, onde compraria Madeleines de Liverdun (as favoritas do Antoine, vim a descobrir essa noite). Quando saí da confeitaria percebi que tinha acabado de perder um comboio e que teria outro dali a meia hora. Felizmente tinham instalado um piano na estação e tive direito a um concerto de dois jovens, que também eles esperavam pelos seus comboios.

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