Tenho tendência aqui no blog, de falar maioritariamente das minhas viagens para fora do país, quando Lisboa é a cidade que melhor conheço, não só porque sempre que tenho amigos estrangeiros a visitar os levo a passear, tal como porque a percorro a pé inúmeras vezes para encontrar os detalhes mais interessantes para alimentar o meu feed de Instagram, quando não estou de viagem. Assim, e porque Lisboa é agora tendência, queria deixar-vos o roteiro que normalmente faço quando levo os meus amigos a passear. Tudo a pé, que é assim que se vêm bem as coisas!
Dia 1 Começo e acabo sempre pelo Cais do Sodré, uma vez que moro em Oeiras e venho de comboio. Aqui podem optar por ir ou pela Rua da Alfândega ou pela Ribeira das Naus para chegar ao Terreiro do Paço. A segunda opção é geralmente a minha preferida pois vai ao longo do rio e também porque se entra no Terreiro do Paço de frente para a estátua de D. José e para o arco da Rua Augusta. De há algum tempo para cá vêem-se turistas na “praia” ao lado do Cais das Colunas. Se não tiverem muito tempo, não digo que não vão aí, mas se tiverem sugiro que apanhem o comboio no Cais do Sodré até uma das praias do Estoril, bem mais bonitas e com a certeza que não vão apanhar nenhuma doença se forem à água.
Passem por baixo do arco e sigam pela Rua Augusta (podem também subir ao arco para um rápido vislumbre desde cima, custa apenas 2,5€). Esta zona, conhecida por Baixa, ficou completamente destruída após o terramoto de 1755 e foi planeada pelo Marquês de Pombal, sendo também conhecida por Baixa Pombalina. Este senhor desenvolveu uma estrutura anti-sismica, estando todos os edifícios assentes em estacaria de madeira abaixo do nível do solo, uma vez que se trata de uma zona onde antes passava uma ribeira, o piso térreo apoia-se em colunas de pedra enquanto que os pisos superiores têm a famosa gaiola pombalina, esta também em madeira. Nesta zona podem encontrar muitas lojas de roupa, souvenirs e restaurantes. Têm também o MUDE – Museu do Design e da Moda, cuja entrada é gratuita – verifiquem no site se está aberto porque à data que estou a escrever este post está em obras de requalificação. De qualquer forma, mesmo que não se interessem tanto pela temática é interessantíssimo entrar no edifício, antiga sede do Banco Nacional Ultramarino.
Numa das ruas perpendiculares, na Rua de Santa Justa, imediatamente anterior a chegar à Praça D. Pedro IV (conhecida por todos como Rossio), verão à esquerda o Elevador de Santa Justa. Podem tirar algumas fotografias e continuar caminho, pois voltaremos a ele mais tarde. No Rossio encontram algumas das pastelarias/cafés mais emblemáticos de Lisboa como a Suíça e a Nicola. Desde o ano passado que encontramos uma loja também muito criativa que é O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa, uma loja que se assemelha a um circo e que só vende latas de sardinhas, mas com uma apresentação muito criativa e um presente ideal para levar para casa. Ainda no Rossio passem pela sua estação em estilo manuelino, apesar de ter sido construída bem depois do tempo de D. Manuel. Do lado oposto ao Teatro D. Maria II encontram a Igreja de São Domingos, com um interior impressionante, depois de ter ardido nos anos 50. Mesmo ao lado têm a famosa A Ginjinha, para quem aprecia, antes de se dirigirem à Casa do Alentejo, já na Rua das Portas de Santo Antão, para mim um dos melhores segredos de Lisboa! (e podem aproveitar para ir à casa de banho, no 2º piso!) Saindo desta magnifica Casa Cultural de influência árabe vão em frente pela Rua do Jardim do Regedor até à Praça dos Restauradores, no início da Av. da Liberdade, reservada a lojas de luxo e teatros. À esquerda, para quem está virado para a Avenida e depois do Palácio Foz encontram a Calçada da Glória, com o elevador com o mesmo nome. Estes elevadores, que se assemelham bastante aos eléctricos, com a diferença de só ter duas paragens, uma na base da colina e outra no topo, foram originalmente concebidos como um meio de transporte público para ajudar os moradores a subir as colinas. Hoje em dia são super turísticos e a maior prova está no preço que se paga a bordo: 3,60€. O que a maioria dos turistas não sabe é que, se tiverem dinheiro no Cartão Viva (tarifa Zapping) custa apenas 1,30€. Podem também subir a pé pois são apenas 270 metros. No topo encontram o miradouro de São Pedro de Alcântara, com uma fabulosa vista para a colina do Castelo. Desçam um pouco até à Igreja de São Roque, das mais bonitas de Lisboa e depois desçam as escadinhas da Calçada do Duque, muito fotogénicas! Se forem pela Rua da Condessa, a segunda à direita, irão chegar ao Largo do Carmo, onde terminou a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, pois aí se encontrava o Quartel, hoje da GNR. Na mesma praça encontram as Ruínas da Igreja do Carmo, parcialmente destruída durante o terramoto de 1755, precisamente a 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, logo cheia de crentes dentro dela, que morreram soterrados com a queda da cobertura da mesma. Hoje em dia alberga o Museu de Arqueologia, mas o que é mesmo interessante é o edifício! Do lado direiro das ruinas tem uma ruazinha que leva ao Elevador de Santa Justa (subindo as escadas e passando o restaurante italiano). Este é para mim o maior tourist trap da cidade, não por não valer a pena, mas porque os turistas fazem horas de fila, quando em 5min a pé dão à volta à colina e estão lá em cima. Pior, entretanto o Topo Chiado Bar instalou um elevador numa das lojinhas da Rua do Carmo que nos leva até meio caminho e depois é só subir algumas escadas até estar na base das escadas que levam ao restaurante. E se de facto querem ter a experiência do elevador, pois desçam-no, que para isso não há fila! E novamente levem o vosso Cartão Viva, que este é como qualquer transporte da Carris!
Descendo de elevador ou a pé (de novo pelas escadas do restaurante e depois imediatamente à esquerda) a próxima zona a explorar é o Chiado. Conhecida há muito por ser a zona de artistas da cidade, é também uma zona de compras e edifícios lindíssimos! Subam pela Rua do Carmo e pela Rua Garrett. Se estiverem à procura de produtos típicos portugueses ou de um presente criativo, vão pela Rua Anchieta até à loja d’A Vida Portuguesa. Estando aí podem espreitar o Largo de São Carlos, e voltar à Rua Garrett onde poderão ver Fernando Pessoa a tomar café n’A Brasileira – vá, a sua estátua. Vão chegar ao Largo Camões e aí não podem deixar de comer um Pastel de Nata na Manteigaria, para mim os melhores pastéis de nata da cidade! Daí têm de fazer uma ingressão no Bairro Alto, para mim muito mais bonito durante o dia – isto porque, para quem não sabe, o Bairro Alto é uma das zonas de diversão nocturna de Lisboa, com bares porta sim, porta sim. Subam um pouco e aproveitem as ruas sem carros para tirar umas fotografias giras! Desçam de novo, por outra rua, para verem coisas diferentes e sigam pela Calçada do Combro para espreitarem o Ascensor da Bica, na Rua da Bica de Duarte Belo, considerada uma das ruas mais bonitas do mundo.
Para terminar o dia em grande têm duas opções, ambas com vistas deslumbrantes mas ambas geralmente muito cheias. A primeira é o PARK, um bar no topo de um parque de estacionamento na Calçada do Combro, com excelente música e Sommersby (que eu adoro!). Ou então seguem pela Rua Marechal Saldanha até ao Miradouro de Santa Catarina, que muitas vezes tem música ao vivo e há sempre lugar no chão. Só falta descer de volta para o Cais do Sodré, lugar onde começaram o dia, onde podem apanhar o metro ou o comboio. Total: ~6km a pé
Dia 2 Depois de descansarem as pernas temos um dia dedicado aos bairros antigos de Lisboa, os que sobreviveram ao terramoto. Começaremos pela Mouraria, que como o nome sugere é para onde D. Afonso Henriques enviou os Mouros sobreviventes, depois da reconquista. O lugar mais perto e mais acessível por onde começar é pela Praça da Figueira (metro do Rossio) ou pelo próprio metro Baixa-Chiado. Na Rua dos Fanqueiros, ao lado da Pollux, sobem a escadaria que leva à Rua da Madalena e no topo da escadaria atravessam a rua e continuam a subir pelo arco que encontram à vossa frente até chegarem ao Largo de São Cristóvão. Passem o Beco das Farinhas, onde poderão encontrar uma exposição de fotografias dos moradores do bairro e um pouco da sua história. Continuem pela Rua de São Lourenço quando chegarem ao fim desçam as escadas em direcção ao Martim Moniz, a zona mais intercultural de Lisboa, onde vivem muitos chineses, paquistaneses, indianos e africanos dos PALOP. Continuem pela Rua da Mouraria e Rua do Capelão até chegarem ao pitoresco Largo da Severa, nome de uma famosa fadista local. Aqui ganhem força porque vamos subir até ao Miradouro da Graça, a apenas 550m mas com uma diferença de altitudes de aproximadamente 60 metros – sinónimo de muitas escadas. Esta é para mim uma das melhores vistas da cidade pois se vê o castelo, o rio e a ponte, para além de quem tem uma esplanada com preços aceitáveis. Para os mais corajosos podem ainda subir mais um pouco, até ao Miradouro da Senhora do Monte, passando pela Villa Sousa, ainda no Largo da Graça, ou pela Vila Berta, a minha preferida, antigas vilas operárias da época da revolução industrial.
É tempo agora de descer até à Igreja de São Vicente de Fora pela Rua da Voz do Operário. Atrás da Igreja, no Campo de Santa Clara, às terças e aos sábados encontram a feira mais famosa de Lisboa, a Feira da Ladra, onde poderão encontrar de tudo. Ao lado encontram o Panteão Nacional, com a sua imponente cúpula. A entrada custa 4€, vocês decidem se querem entrar ou não. O passo seguinte é perdermo-nos por Alfama. Alfama é o bairro mais antigo da cidade, na colina entre o Castelo e o Tejo. E o que eu gosto mesmo é de caminhar sem rumo, pois em todas as esquinas se encontram casinhas mínimas, ruas apertadas e detalhes lindos! Tentem chegar ao Largo do Chafariz de Dentro, passem pelo Chafariz d’el Rei (ou Chafariz de Fora – ou seja, dentro e fora da antiga muralha) e comecem a subir em direcção ao Largo das Portas do Sol, mais um lugar com uma vista para a cidade e para o rio de se cortar a respiração! Aqui destacam-se no horizonte a Igreja de São Vicente de Fora e o Panteão Nacional, por onde passaram. Aos nossos pés Alfama e junto ao rio o novo terminal de cruzeiros da autoria do arquitecto Carrilho da Graça.
Daí podem decidir se vão ao Castelo de São Jorge. Eu nunca mais fui desde que começou a ser pago, 8,5€ custa a entrada, a não ser que vivam no Concelho de Lisboa, que é grátis. Mas tenho muita pena pois era um dos meus sítios favoritos e a melhor vista para a Baixa. Desde o Castelo ou desde as Portas do Sol já só nos falta descer para o Largo da Sé, onde podem visitar a igreja principal de Lisboa – mas não tenham expectativas altas, que é uma igreja típica medieval, sem qualquer ornamentação. E de aí regressamos à Baixa e terminamos o nosso 2º dia por Lisboa. Total: ~7km a pé
Se gostarem tanto de Lisboa como eu, não se esqueçam de seguir o meu instagram, onde diariamente ponho fotografias em que 90% são de Lisboa!