Eu tenho este objectivo idiota de visitar 50 países antes dos 30. No início de 2020 ia nos 46 e achei que ia conseguir alcançar esse objectivo nesse mesmo ano, mas depois já sabem o que aconteceu… veio a pandemia, fronteiras a fechar e terminei o ano com os mesmos 46! Foi só em Julho de 2021 que consegui adicionar um país novo à contagem, Malta. Mas ainda faltavam três e entretanto fiz 29, a coisa estava a apertar… Surge outro “problema”: para onde é mais fácil viajar neste momento é dentro da Europa, e eu essa já a conheço quase toda. Mas falta o quase! Estava um dia dentro do explorador de voos da momondo e encontro um voo para o Luxemburgo a um preço muito simpático. Era um país onde nunca tinha ido, tenho amigos que vivem em Metz, a uma hora de comboio da Cidade do Luxemburgo, onde trabalham, e que me podiam hospedar, e tinha acabado de conhecer duas luxemburguesas simpatiquíssimas, através do Couchsurfing, e que me queriam dar todas as dicas e mais algumas sobre o seu país.

Parti então de Portugal com as galinhas e às 10h30 estava a deixar a minha mala no atelier de arquitectura onde trabalha o Antoine, para poder ir passear descansada. Vê-lo-ia e à Sofia ao final do dia, para jantar. Apanhei o mesmo autocarro que me tinha trazido gratuitamente desde o aeroporto de volta para a estação central. Adorei o facto dos transportes públicos no Luxemburgo serem todos grátis!

Fui pela Avenue de la Liberté em direcção à Ponte Adolphe, passo por uma pracinha que tinha umas bancas de artesanato, uma delas só com produtos portugueses, digo bom dia. Passo pela Place des Martyrs onde páro para tirar umas fotografias, passam dois velhotes também a falar português. Chego então à Ponte Adolphe com belíssimas vistas sobre o Parque de la Petrusse, lá em baixo, e a Catedral cá em cima, e continuo para um cafézinho que me tinham recomendado para tomar o pequeno almoço.

Havia uma esplanada, mas estava demasiado frio, entro mas não percebo onde me posso sentar, entra um senhor atrás de mim, meio atrapalhado, e começa a falar português, uma das empregadas responde-lhe na nossa língua, que podia subir e ser atendido aí. Segui-o, era aí que estavam as mesas. Aparece outra empregada que começa a falar com ele em francês, nada, alemão, nada, inglês, ele pergunta se ela falava português, e não é que falava? Parece que toda a gente fala português?!

A Cidade do Luxemburgo tem dois centros, o da cidade alta e o da cidade baixa. A minha visita começou pela Catedral Notre-Dame, na cidade alta. Fiquei especialmente impressionada com os vitrais, com a luz que por eles entram por detrás do altar e com os tectos que separam quem está mais próxima do altar dos que estão mais longe. 

Continuei a deambular pela cidade alta, pela Place Guillaume II, à Place d’Armes até ao Palais Grand-Ducal, com uma das fachadas mais bonitas da cidade e os seus guardas à porta, com as suas coreografias militares sempre divertidas. Mas não me estava a apaixonar pela cidade, faltava algo, não sabia o quê…

Bastou-me chegar ao Chemin de la Corniche e ver a vista para a cidade baixa (ou Basse-Ville / Grund) para me apaixonar! Desde a Pont du Château temos vistas para ambos os vales: a norte está Pfaffenthal e do outro lado do vale temos Kirchberg e toda a arquitectura moderna, a sul o Centro Cultural Neimënster, na antiga Abadia com o mesmo nome. Nas ruínas das Casemates du Bock descobri que havia dois percursos que se poderiam explora, o percurso Vauban e o percurso Wenzel. Optei pelo segundo, que desceria pelo Chemin de la Corniche para o vale a sul, o do rio Alzette, e percorreria as muralhas da cidade. Todo o percurso está extremamente bem marcado e encontramos informação interessante sobre o que estamos a ver durante todo o caminho.

Já lá em baixo aproveitei para visitar o Centro Cultural, de entrada livre, com exposições muito interessantes no claustro fechado. Continuei depois o percurso Wenzel subindo até ao Ravelin du Rham, passando pela Torre Jacob e voltando a descer por jardins e sobre as muralhas de volta ao rio, sempre com paisagens e vistas espectaculares!

Apanhei o elevador de volta à cidade alta e um autocarro para o Centro Cultural Rotondes, onde tinha combinado encontrar-me com os meus anfitriões. Conheci a Sofia, italiana, e o Antoine, francês, em Florença, durante o meu Erasmus, há oito anos. Com ela tinha uma cadeira em comum, cujo trabalho único era em grupo, e a Sofia e as amigas adoptaram-me como se me conhecessem desde sempre. O Antoine estava lá também em Erasmus e os dois apaixonaram-se loucamente! No ano seguinte a Sofia foi para Nancy em Erasmus, onde o Antoine estudava, e nunca mais voltou para Itália. Entretanto compraram uma casa em Metz, mais perto do Luxemburgo, onde ambos trabalham já há vários anos, e como arquitectos que são, estão a recuperá-la com as próprias mãos. Foi aí que me receberam!

Nessa noite apanhámos então o comboio para Metz e só voltei ao Luxemburgo quatro dias depois, aproveitando entretanto para visitar Nancy, Metz, e até para dar um saltinho à Alemanha e visitar a minha família de acolhimento (de quando fiz o programa AFS, para os mais distraídos).

 

Este segundo dia na Cidade do Luxemburgo começou mal, com um comboio perdido, sendo que o próximo era só uma hora depois, e com uma pequena “multa” por ter comprado o bilhete online e não o ter trocado por papel, que não fazia ideia que era necessário. Chegada à Gare Central, apanhei um outro comboio para Pfaffenthal-Kirchberg.

Na estação podia apanhar o elevador para cima ou para baixo e escolhi ir para baixo, para espreitar rapidamente aquela parte da cidade baixa, e também porque queria andar no Elevador Panorâmico de Pfaffenthal, coisa que facilitava a subida para depois seguir para Kirchberg, pela Ponte Grand Duchess Charlotte. Ainda lá em baixo fiz uma pequena parte do percurso Vauban.

Kirchberg é um dos bairros mais modernos da Cidade do Luxemburgo, com muita arquitectura contemporânea de qualidade e muitos escritórios. A minha visita a este bairro tinha dois objectivos, o primeiro era visitar o incrível edifício da Filarmónica, desenhado por Christian de Portzamparc. Infelizmente não tinham visitas guiadas nesse dia, pelo que me tive de cingir ao exterior, marcado pela cadência dos esguios pilares que escondem o interior.

O segundo objectivo era visitar o ainda mais incrível MUDAM, o Museu de Arte Moderna, desenhado por I. M. Pei (que também arquitectou o Louvre de Paris). O desenho deste museu encaixa-se e adapta-se ao desenho das muralhas do antigo Forte Thüngen, que também alberga o Museu Dräi Eechelen.

Entrei no museu, indicaram-me a bilheteira. – I would like to visit the museum, please. – Sure, where are you from? – Portugal. – 7€ por favor. Mais um português, claro! O museu vai tendo diferentes exposições temporárias, que vão alterando ao longo do ano, mas devo dizer que gostei de tudo o que vi, principalmente do edifício!

A visita ao museu foi mais longa do que previ e o dia começava a chegar ao fim. Desci pelo Forte Obergrünewald de volta a Pfaffenthal, subi de novo o Elevador Panorâmico e caminhei até ao Chemin de la Corniche para me despedir da minha vista preferida do Luxemburgo. Também aí estavam grupos de adolescentes a falar português. Passei novamente à frente do Palácio Grão-Ducal, sentei-me numa esplanada para um almoço muito tardio (e caro, afinal estamos no Luxemburgo) e comprei uns últimos souvenirs, a caminho da estação. Em Metz esperava-me um último jantar com os meus amigos, íamos fazer gnocchi!

No dia seguinte explorei ainda Metz pela manhã e depois, calmamente, apanhei o comboio para o Luxemburgo e o autocarro para o aeroporto. Depois de me confiscarem um queijo brie inteiro, que tinha comprado essa manhã, por ser considerado líquido, tive direito a um lugar à janela, com vista para a Cidade do Luxemburgo. Adeus país nº48, já só faltam dois!