O José vive em Saragoça mas diz que é de Cuenca, onde viveu dos 15 aos 18 e onde a mãe dele vive. Assim, quando decidi que o ia visitar à capital de Aragón, decidimos que iríamos terminar esse passeio em Cuenca. Mas entre Saragoça e Cuenca há uma outra cidade que vale muito a pena visitar, e assim o fizemos: Teruel, a capital do mudéjar!

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O José falou com o Javi, um amigo dele da universidade e que se acabou de mudar para Teruel, que aceitou alojar-nos por uma noite. Apanhámos então o comboio de Saragoça para Teruel, cuja estação se encontra à frente de uma das maiores atracções da cidade, a Escalinata del Óvalo, neo-mudéjar. Felizmente há também um elevador ao lado, para ultrapassar a diferença de cotas. Fomos até casa do Javi deixar os nossos pertences e seguimos para a Catedral de Santa Maria, parte do espólio mudéjar Património Mundial da UNESCO. Quando lá chegámos avisaram-nos que já só era possível visitar à tarde, e sugeriram-nos visitar o Museu Provincial. E que bela visita, que museu incrível, principalmente comparando com o Museu Provincial de Saragoça, bem pobre. No Museu de Teruel pudemos ver centenas de peças de arqueologia, onde são expostas peças que vão da pré-história até aos reinos cristãos, passando por objetos procedentes da cultura ibera, romana, visigoda e árabe; etnografia, com utensílios, indumentária, cerâmica e artesanato tradicional; e paleontologia, para além do incrível terraço no último piso, com vista para os telhados da cidade, da catedral e algumas das torres mudéjar que pontilham Teruel!

Comemos umas tapas na Praça de El Torico, o coração da cidade, mas precisávamos de fazer algum tempo antes da Catedral reabrir, pelo que voltámos até à Escalinata del Óvalo para tirar algumas fotografias, passando pela incrível Torre de El Salvador, uma das quatro torres mudéjar da cidade que ainda existem e que subiria mais tarde. Pelo passeio pelo pequeno centro, passámos também pela Torre de San Pedro e vimos ao longe a Torre de San Martin, duas das outras torres. A terceira é a da catedral.
Chegou então a hora de visitarmos a Catedral de Santa Maria. A visita seria guiada e já não tivemos bilhete para o primeiro grupo, pelo que sugeriram que visitássemos o Arquivo Diocesano de Teruel, na porta ao lado, enquanto esperávamos a meia hora.

A grande vantagem de fazer a visita guiada à catedral é poder-se subir à galeria do coro, de modo a ficar bem próximos do zimbório e do interessantíssimo tecto mudéjar, todo em madeira pintada, cada trave com uma decoração diferente, incrível! Já o resto da catedral, é bastante normal.

Daí seguimos para outra das maiores atracções de Teruel: o Mausoléu dos Amantes. O Mausoléu dos Amantes encontra-se na Igreja de San Pedro e foi reaberta há pouco tempo, depois de um projecto de arquitectura para recapacitar o espaço e receber os corpos (múmias) destes amantes. O bilhete inclui a visita ao mausoléu, à incrível igreja, ao claustro mudéjar e à abside e jardins (estes últimos são na verdade de acesso livre) e custa 9€. Por mais um euro pode-se também subir à torre e inclui visita guiada. Infelizmente já não tinham lugares para as visitas guiadas para esse dia. Começámos assim com a história dos amantes de Teruel.

A LENDA:

Era uma vez, em Teruel, no século XIII, um rico comerciante que tinha uma filha lindíssima, chamada Isabel de Segura. Havia também um menino pobre mas honesto chamado Diego de Marcilla. Isabel e Diego conheceram-se um dia no mercado e apaixonaram-se profundamente. Os jovens amavam-se muito, Diego confessou que queria tomá-la como esposa. Ela respondeu que era seu desejo, mas que sabia que nunca o faria sem a aprovação dos pais. Diego disse à donzela que, como o seu pai só o desprezava por falta de dinheiro, se ela quisesse esperar cinco anos por ele, ele estaria disposto a buscar fortuna onde fosse necessário para ganhar dinheiro e se tornar digno de casamento. E ela assim o prometeu.

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Contra os mouros, Diego fez uma fortuna de cem mil salários. Durante cinco anos, Isabel foi importunada pelo pai para arranjar um marido. Depois de cinco anos, o pai fez-lhe um ultimato e ela, vendo que o prazo dos cinco anos estava a chegar ao fim, e o namorado não aparecia nem dava notícias, acabou por crer que Diego estava morto. Imediatamente o pai arranjou um pretendente rico e casaram-se. No entanto, nesse mesmo dia, Diego de Marcilla regressou a Teruel. Naquela noite, Diego conseguiu entrar no quarto onde os noivos dormiam e gentilmente acordou Isabel, implorando: “Beija-me, ou morro”, e ela respondeu com dor que não podia, pois era uma mulher casada. Ele disse novamente: “Beija-me, ou morro.” Ela não o fez e ele caiu morto.

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Ela começou a tremer e acordou o marido e contou-lhe o que acontecera e como, com um suspiro, Diego morrera. Ele disse que se as pessoas soubessem que ele morrera ali, diriam que ele o matara e teria muitos problemas”. A jovem pensava no quanto Diego a amava e no quanto havia feito por ela, e que, por não querer beijá-lo, morrera. Ela decidiu beijá-lo antes de enterrá-lo; Foi então à igreja de San Pedro e não se preocupou com nada, além do homem morto. Ela descobriu o rosto dele e beijou-o com tanta força que morreu mesmo ali. As pessoas que viram que ela, que não era parente, estava deitada sobre o morto, foram dizer-lhe para sair, mas viram que ela estava morta. O marido contou a todos o que ela havia contado e concordaram em enterrá-los num túmulo conjunto.

Terminámos o dia com um pôr do sol no topo da Torre de San Salvador. Na subida para o topo, a 40m de altura, encontramos o Centro de Interpretação da Arquitectura Mudéjar Turolense. Nas três salas de exposição, é feita uma revisão da história e do desenvolvimento desta arquitetura única que mistura elementos muçulmanos e cristãos. A torre é de uma beleza incrível, como podem ver nas fotografias, e tem uma vista de 360º sobre toda a cidade. A cada hora, os sinos tocam (bastante alto, apanhámos um susto valente!), pelo que é engraçado estar lá em cima quando isso acontece.

Terminámos por jantar em casa, já que estávamos a gastar bastante dinheiro em entradas em museus, igrejas, cultura e fomos para a cama cedo, para aproveitar a manhã seguinte, já que à tarde seguíamos para Cuenca, o nosso destino final.

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A caminho das muralhas, passámos pelo Aqueduto de Teruel, tirámos umas fotos, e fomos então às muralhas, que realmente não valem muito a pena… São curtas, acabadas de recuperar, pelo que parece que foram construídas ontem, e sem grandes vistas…

Mas ainda havia uma coisa a ver de perto em Teruel: a quarta torre mudéjar, a de San Martin, exactamente igual à de San Salvador, mas um pouco torta. Há até uma história que envolve dois mouros a lutar pela mão de uma princesa, que construíram duas torres, para ver quem ganhava a mão dela, só que como a de San Martin ficou torta, o rapaz atirou-se da torre… História triste à parte, foi a minha torre preferida, por ser a mais bonita (mesmo sendo igual à de San Salvador), mas com a diferença de se poder ver de mais ângulos 🙂

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Restou-nos dar mais uma volta pela cidade, comer um pincho de tortilla e beber um vermute no Óvalo, mais uma voltinha, almoço em casa, e hora de partir para Cuenca, a minha cidade preferida desta viagem!

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