A Inês tem 22 anos (quase 23, podem dar-lhe os parabéns na próxima 2ªfeira), é estudante de arquitectura e está em Tóquio há nove meses, através de um programa de intercâmbio com a Universidade de Tóquio, subsidiado pelo governo Japonês a fazer o último ano do mestrado. Decidiu ir para o Japão pela oportunidade de explorar o outro lado do mundo, aprender a língua japonesa e fazer um estágio num atelier japonês.

Que expectativas tinhas da cidade e do país antes de chegar? A realidade é parecida com essas expectativas? 

Soube que tinha sido aceite no programa em Outubro e em Novembro já estava em Tóquio, o que não me deu muito tempo para criar expectativas. Na verdade, acho que foi melhor assim: não tinha ideia daquilo que ia encontrar nem tinha pesquisado muito sobre o Japão, portanto tudo me surpreendeu quando cheguei. As únicas expectativas que tinha eram em relação à arquitectura japonesa e aí sim, a experiência superou todas as expectativas!

Do que mais gostas em Tóquio?

A limpeza e a organização da cidade e a pontualidade da rede de transportes deixaram-me sem palavras, ainda mais quando penso que se trata da maior megacidade do mundo, com quase 38 milhões de habitantes – e toda a gestão que isso implica. E a segurança! Em 9 meses não houve uma vez em que me sentisse insegura. Mas acima de tudo, o que mais gosto nesta cidade é a oportunidade de todos os dias ver e aprender algo novo.

E do que menos gostas? 
A barreira da linguagem revelou-se complicada. Algo burocrático como abrir uma conta no banco ou fazer o registo na Câmara Municipal torna-se ainda mais desafiante com as dificuldades de comunicação. Não gosto também do facto de a rede de transportes fechar por volta da meia-noite, quando a cidade vive 24/7.
 
Como caracterizas os japoneses? 
Principalmente em Tóquio, são pessoas que vivem muito a vida profissional e pouco a pessoal. São também o povo mais educado e honesto que conheço – é o melhor sítio do mundo para se perder a carteira ou o telemóvel porque, na verdade, nunca se perde nada. E apesar de serem inflexíveis, pouco calorosos e de a grande maioria não falar inglês (nenhum!), são muito prestáveis e tentam ajudar sempre que podem, mesmo que isso signifique falar por mímica ou levar-te ao sítio que perguntaste onde era. E sendo o Japão um dos países com menor diversidade cultural do mundo (98,5% da população é Japonesa), nunca me senti desconfortável ou a mais; há até algum fascínio e admiração para com os ocidentais.
Como é um dia normal para ti aí?
De segunda a sexta-feira tenho aulas de japonês e trabalho para a tese. Estou muito perto do Campus por isso vou de bicicleta todos os dias, é óptimo e fujo aos transportes em hora de ponta. Tento sempre guardar um dia da semana e o fim-de-semana para explorar Tóquio ou para fazer viagens com amigos.
 
Se alguém fosse visitar Tokyo e só tivesse 3 dias, o que sugerias ver e comer? 
A cidade é enorme por isso acho que o ideal é dividir os dias por zonas e tentar cobrir o máximo a pé:
No primeiro dia visitar a zona de Harajuku, percorrer a Takeshita Dori (rua), o Meiji Shrine, explorar a arquitectura na avenida Omotesando, descontrair em Daikanyama e acabar o dia em Shibuya (na famosa Shibuya Crossing, a passadeira mais movimentada do mundo, atravessada por 2500 pessoas por minuto).
No segundo dia ver a zona histórica de Asakusa, o Parque Ueno, o mercado de Ameyoko, ver o pôr do sol no Bunkyo Civic Center, andar de montanha-russa na Tokyo Dome City e acabar o dia em Shinjuku (na Golden Gai ou em Kabukicho, o red light district de Tóquio).
No terceiro dia comer uma sushi bowl ao pequeno-almoço no Tsukiji Fish Market (o maior wholesale market de peixe e marisco do mundo), passear nos incríveis Hamarikyu Gardens, percorrer Ginza pela Chuo Dori (rua), visitar os jardins do palácio imperial, ver o pôr do sol sobre a Tokyo Station no terraço do edifício Kitte e acabar o dia em Akihabara (na electric/geek town).
Sushi, ramen, tempura e tonkatsu são as minhas escolhas para refeições – há restaurantes em todas as esquinas.
Tens algumas dicas para nos oferecer de como poupar dinheiro em Tokyo?
Aproveitar as convenience stores para comprar snacks e café, fazer as próprias refeições ou comprá-las em supermercados ao final do dia – os japoneses são muito preocupados com a segurança alimentar e a partir das 18h fazem descontos até 50% para escoarem todo o stock do dia. Se possível arranjar um cartão de crédito ou débito que não cobre comissões, faz muita diferença. Atenção que apenas é possível levantar dinheiro com cartões estrangeiros em algumas convenience stores (7-Eleven e Family Mart).
Sites como o Tokyo CheapoOdigo ou Time Out Tokyo também oferecem dicas óptimas e estão direccionados para um público jovem.

Qual a maior “tourist trap” da cidade? 
Os observatórios mais conhecidos como a Tokyo Skytree ou a Tokyo Tower, porque a entrada é caríssima e as filas intermináveis. Apesar de serem considerados landmarks da cidade, há muitos outros observatórios com entrada livre e quase sem turistas, com vistas iguais ou melhores. O meu preferido fica no 25º andar do Bunkyo Civic Center, onde a vista é espectacular e o ângulo dos vidros permite tirar fotografias incríveis – a prova disso são os vários fotógrafos japoneses com quem me costumo cruzar por lá.
Em que zonas da cidade devemos procurar hospedagem e porquê?
Shinjuku, Shibuya e Tokyo Station são áreas com vida, centrais, com mais hotéis e com ligações directas aos aeroportos. Os bairros de Daikanyama, Harajuku e Shimokitazawa têm mais personalidade e são mais calmos, apesar da proximidade aos grandes centros. No limite, aconselharia ficar perto de uma das estações da Yamanote Line, a linha principal de Tóquio que define o centro da cidade.

Quais os melhores locais para sair à noite?
 Shibuya tem a maior variedade de bares e discotecas e também tem izakayas (tascas de petiscos japoneses) e lojas de ramen abertas durante 24 horas para acabar a noite.
Qual o teu lugar preferido?
A Tsutaya Books em Daikanyama. Fica num dos meus bairros preferidos, numa rua com imensa herança arquitectónica e tem mesmo muito bom ambiente. Esta loja faz parte de uma cadeia de livrarias que adoro, onde quase todos os livros e revistas podem ser consultados mesmo sem serem comprados e podem ser acompanhados por um café.
Não se pode sair de Tokyo sem…?
Ir a um restaurante de kaiten sushi! Sushi fresco e delicioso numa passadeira, a preços óptimos. Há alguns onde se faz o pedido por iPads e outros onde se pede directamente aos chefs que estão a preparar o sushi no meio da sala.

Um grande obrigada à Inês, úteis para todos, já sabemos, mas felizmente eu poderei muito brevemente seguir os seus conselhos porque em Novembro farei uma viagem de duas semanas pelo Japão e mal posso esperar por visitar todos estes lugares de que ela fala! 🙂

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