Em ano de pandemia, a resposta para onde ir de férias não era fácil, até porque o objectivo era um país onde nunca tivesse estado, que na Europa já são poucos. Assim surgiu Malta, voo barato a partir do Porto, o Jorge não tinha férias, a minha mãe tinha, só era necessário fazer teste covid, estava tudo encaminhado. Nos dias anteriores à partida ainda sofremos um pouco pois ameaçavam ser o primeiro país que só ia aceitar vacinados e ainda me faltava a segunda dose, mas conseguimos entrar no país antes da data prevista para essa nova regra, que acabou por não ser aplicada… Deixo-vos aqui as minhas dicas do que ver em Malta, Comino e Gozo, em 8 dias!

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DIA 1 – CHEGADA / VALLETTA

Chegámos a Malta, com a Ryanair a partir do Porto, às 18h. Todo o processo de controlo Covid bastante rápido e organizado e estávamos fora do aeroporto.

Queríamos apanhar o autocarro X4, que nos levava directamente para Valletta, por apenas 1,5€ e que parte a cada meia hora, mas por causa das lotações máximas, não coubemos no que passou e como tínhamos pouco tempo de luz, decidimos apanhar um Uber para a cidade, em conjunto com um outro casal brasileiro. A corrida ficou por 12€.

Apaixonei-me imediatamente por Valetta, pelas suas casas de pedra clara e principalmente por todas as varandas, de madeira pintada de diferentes cores! Deixámos as malas no Luciano Valetta Boutique, na Rua dos Mercadores (Triq Il-Merkanti), mesmo à frente da Co-Catedral e partimos imediatamente à descoberta. O plano era de deambular pelas ruas de Valetta, sem destino.

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Assim, descemos até aos Lower Barrakka Gardens, para ver a vista para as três cidades, Birgú, Senglea e Cospicua, tocadas pelo sol dourado de fim de tarde, e daí explorámos as bonitas ruas da capital até terminar na Praça de St. George, onde jantámos. O passeio continuou de barriga cheia, desta vez do lado poente da península, com vista para Sliema. Percorremos todo o perímetro da cidade até irmos dar às Portas da Cidade, de onde vimos o belo jardim contemporâneo que há no fosso, e seguimos pela Rua da República (Triq Ir-Repubblika), passando pelo moderno Parlamento e pela belíssima Ópera, numa ruína a céu aberto, até ao nosso hotel.

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DIA 2 – VALLETTA E AS TRÊS CIDADES

Tínhamos a Co-Catedral de São João mesmo à nossa frente, e li que era aconselhável ir logo pela manhã para evitar enchentes. A entrada custa 7,5€ por pessoa. O interior da catedral é de tirar o fôlego, contrastando com a fachada bem simples!

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Depois seguimos para os Upper Barrakka Gardens, para fazer parte de uma tradição de Valletta: todos os dias, ao meio dia em ponto, há uma salva de tiros de canhão. Antigamente servia como saudação a navios estrangeiros e tornou-se parte do folclore maltês. A melhor parte dos Upper Barraka Gardens é a vista incrível das Três Cidades, para onde seguiríamos.

Para lá chegar, há um elevador desde o jardim (1,5€ ida e volta) que nos leva ao nível do mar, depois é atravessar a rua e continuar à esquerda. Há duas opções para cruzar:

  1. de ferry, que custa 2,80 € ida e volta (1,5€ só ida) e leva cerca de 10 minutos a cruzar;
  2. de “gôndola” tradicional, que dura um pouco mais e custa 2€ por percurso.

Nós fomos de gôndola e regressámos de ferry, até porque a gôndola nos deixa ao pé da Igreja Colegiada de São Lourenço (link para ver a localização exacta), em Vittoriosa (também chamada de Birgu em maltês), uma das três cidades, enquanto que o ferry sai de Senglea (link para localização), outra das cidades.

Estas duas e Cospicua são conhecidas como as Três Cidades e todas oferecem vistas magníficas sobre Valletta e podem ser facilmente visitadas a pé. Em Birgu tentámos visitar o Forte St. Angelo, mas confirmava-se o que já tínhamos lido, está fechado à terça feira, como muitas das outras atracções de Valetta. Como fazia muito calor decidimos tomar um banho de mediterrâneo e aproveitámos para almoçar em modo picnic, as Qassatat de ervilha e ricotta, uma espécie de empada típica, muito saborosa!

Continuámos o passeio, passámos pelo palácio do Inquisidor, pelo museu marítimo (fechado temporariamente), cruzámos a ponte para Senglea sem nunca de facto chegar a Cospicua, e fomos sempre junto à água, com mais um mergulho pelo caminho, até à ponta desta península, onde se encontram os Jardim do Porto Seguro, com uma vista incrível para Valetta. Voltámos para trás, pelo meio de Senglea, com muitas varandas e escadarias até ao ferry, para cruzar de volta para Valetta.

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Estávamos cansadas mas no dia seguinte deixávamos a capital e ainda havia muito por onde deambular. Assim passei pela Casa Rocca Piccola, o único palácio de Valetta ainda habitado, e continuei até ao Forte St. Elmo, na ponta da península, que foi construído em 1552 pelos Cavaleiros da Ordem, para proteger os portos de Valletta. Daí continuei pela costa poente, em busca do melhor sítio para ver o pôr do sol e a cúpula da Basílica de Nossa Senhora do Monte Carmelo, um dos marcos da cidade.

Optámos por jantar num restaurante colado à Ópera, a céu aberto, pois estava a haver um ensaio para um concerto que ia acontecer daí a dias. Um amigo alemão, que também estava em Malta e que vive em Lisboa há pouco tempo, juntou-se a nós e terminámos a noite num bar de portugueses (na St. John Street, mesmo ao lado da porta do Luciano Valetta Boutique) a beber ginginha e a ouvir Salvador Sobral, duas coisas que ele ainda não conhecia.

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Ver Valetta e as Três Cidades em pouco mais de um dia foi curto. A cidade é lindíssima e vale a pena ficar mais um dia, mas também não abdicaria de nada do que fiz nos outros sítios, pelo que o ideal seria estar 10 dias em Malta – mais em baixo vão perceber onde se insere o 10º dia!

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DIA 3 – MDINA – RABAT  / ĠNEJNA BAY / QARRABA BAY / GHAJN TUFFIEĦA BAY / ST. PAUL’S BAY

Apanhámos o autocarro X4 para o aeroporto, com todas as nossas malas, para levantar o carro que alugámos para o resto da viagem. Há um passe semanal de transportes públicos que só custa 21€ por pessoa, mas para tudo o que queríamos fazer numa semana, e para a liberdade que queríamos não era a melhor opção.

Saímos do aeroporto em direcção a Mdina, a antiga capital do país, antes dos Cavaleiros chegarem a Malta. Explorámos esta cidade muralhada, percorremos todas as suas ruas, visitámos os lugares onde algumas cenas de Guerra dos Tronos foram gravadas e saímos para Rabat, a cidade fora das muralhas, onde almoçámos no Is-Serkin, um cafézinho que nos tinha sido recomendado pelos típicos Pastizzi, não só óptimos, como super baratos!

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Mas queríamos praia, pelo que seguimos para Ġnejna Bay, de onde partia uma caminhada, que eu não antevia tão difícil, para visitar as baías de Qarraba e Ghajn Tuffieħa. Pude finalmente voar o drone nestas baías maravilhosas, de rochas argilosas, areias douradas e águas turquesa! Tomámos vários banhos e foi uma aventura que nunca iremos esquecer, que quando olhamos para o Google Maps às vezes nos esquecemos que a realidade é a três dimensões 😛 Ficou como um dos meus lugares favoritos em Malta!

Essa noite ficaríamos a dormir em St. Paul’s Bay, na Villa Zamitella, um simpático B&B com excelente vista sobre a baía.

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DIA 4 – COMINO / FERRY PARA GOZO

No 4º dia saímos de St. Paul’s Bay em direção ao porto de Cirkewwa, onde deixávamos o carro para apanhar o barco para a ilha de Comino, a terceira maior ilha do país, que se situa entre Malta e Gozo, e onde se encontra a famosa Blue Lagoon. O barco custa 13€, ida e volta, e inclui a passagem (bem longe) por algumas grutas da ilha. Há outras opções, mais caras, para visitar Comino.

A Blue Lagoon é de facto muito bonita, mas tem demasiada gente e foi transformada num local hiper turístico que estraga um pouco a experiência. Barcos a puxar “bananas” e “crazy sofas” com música aos berros. Montes de roulottes a vender cocktails dentro de ananáses, estupidamente caros, e junk food. A única de que gostámos, e que nos deu jeito, foi a dos cacifos, onde pudemos deixar a câmara fotográfica, o drone, e todos os nossos pertences, enquanto íamos à água, nadávamos até Cominotto, voltávamos, apanhávamos um pouco de sol. 7€ pelo dia inteiro e acesso ilimitado.

Mas Comino não é só a Blue Lagoon, pelo que fomos explorar as baías de San Niklaw e de Santa Marija, atravessando empreendimentos turísticos abandonados e indo ao banho em cada uma das baías. Depois cruzámos pelo interior até à Torre de Santa Maria, passando pelos poucos edifícios que a ilha tem: a capela e o abandonado Hospital de Isolamento, que em tempos recebeu doentes de cólera e também prisioneiros.

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Depois de um último mergulho na Blue Lagoon, apanhámos o barco de volta para Cirkewwa, agarrámos no carro e pusemo-lo no ferry para Gozo, tudo no mesmo porto. O embarque e desembarque são muito rápidos e bem organizados. Não se paga nada no caminho para Gozo, só no regresso, e a viagem para um carro e duas pessoas custa 20,35€ ida e volta.

Gozo é uma ilha pequena, onde se chega a qualquer lado em 20min. Optámos assim por um Airbnb na baía de Xlendi. Foi bom voltar a ter uma casa inteira para nós, poder cozinhar, pois comer em Malta não é assim tão barato, para além da simpatia do dono da casa, o Joe. O único supermercado da ilha é em Victoria, capital de Gozo, mais uma vantagem de ter carro. Ainda assim há alguns mini-mercados noutros locais – mesmo no centro de Valletta não havia supermercados.

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DIA 5 – VICTORIA / RAMLA BEACH / DAĦLET QORROT / XLENDI / SANAP – TA CENC CLIFFS

Primeira paragem, Cidadela de Victoria! Situada no centro da ilha e num ponto alto, a Cidadela é o lugar perfeito para começar a exploração de Gozo, já que a partir das suas muralhas é possível ter uma vista de 360º da ilha. É também um lugar muito importante da história de Gozo e dos gozitanos, que aqui se refugiavam dos ataques de corsários Bárbaros e Sarracenos, que pretendiam escravizar os ilhéus.

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Daí seguimos para Ramla Beach, a famosa praia de areia dourada-avermelhada e a maior da ilha. Não estivemos muito tempo na praia pois começava a levantar-se um vento que nos ia acompanhar todo o tempo que estaríamos na ilha (e que me impossibilitou de levantar o drone estes vários dias…). Subimos então até à Gruta Tal-Mixta, que enquadra perfeitamente a praia e a baía de Ramla, e depois seguimos para Daħlet Qorrot, uma baía menos turística, com casas para barcos, recortadas dentro das rochas calcárias e com portas de todas as cores.

Regressámos a Xlendi pois tínhamos uma caminhada para fazer até às falésias de Sanap / Ta Cenc, os penhascos mais altos de Gozo, a 150 metros de altura em relação ao mar. Das coisas que mais gostei de fazer em Gozo. Partimos da baía de Xlendi, passámos pela torre e pelas salinas com o mesmo nome e continuámos junto à falésia até ao ponto mais alto, a cerca de 3km do início da caminhada. Poderíamos ter continuado por mais dois km, mas isso seriam mais quatro, ida e volta, e já estávamos sem pernas para isso, pelo que decidimos voltar, por entre campos agrícolas, até à baía, onde nos esperava um belo e típico jantar, de robalo e coelho, e onde experimentámos pela primeira vez o vinho maltês.

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DIA 6 – MERGULHO EM MGÁRR IX-XINI E RAS IL-ĦOBŻ / MARSALFORN / INLAND SEA / DWEJRA BAY / BLUE HOLE

Uma das mecas de mergulho na Europa é o arquipélago de Malta, e a ilha de Gozo é das que tem mais locais de mergulho. Antes da partida contactei vários centros de mergulho e terminei por escolher o Atlantis Diving Centre, em Marsalforn, pela localização e pelo preço que ofereciam para dois mergulhos num dia (para a minha mãe) e para aluguer de câmara subaquática e equipamento de snorkeling (para mim, que não tenho o curso de mergulho). Os locais de mergulho são escolhidos dependendo do tempo e do estado do mar e a nós calhou-nos a baía de Mgárr ix-Xini, da parte da manhã e Ras il-Ħobż (também conhecido por Middle Finger) depois do almoço.

Para snorkeling, o primeiro lugar era bem mais agradável que o segundo, pois era uma baía, protegida da ondulação e dos ventos (que relembro, se estavam a fazer sentir muito desde há uns dias). Era também possível seguir os mergulhadores, pois não era assim tão fundo. Já o segundo local foi uma maravilha para a mergulhadora, contou que se sentia num programa de televisão sobre vida marinha, nunca tinha visto tanta vida num só lugar.

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De volta a Marsalforn, percorremos a marginal ao longo das salinas, parámos para observar o mar zangado e o pescador que não se importava com isso, e continuámos até Dwejra, onde se encontra o Inland Sea, um pedaço de mar que se parece com um lago interior, pois a água passa por uma abertura na rocha, a Fungus Rock, o Blue Hole e de onde antigamente se podia ver a Azurre Window, que colapsou há uns anos. O mar estava bravo como há muito os gozitanos não o viam. Dentro do Inland Sea havia ondas, de tal maneira que às vezes era impossível ver a luz do outro lado do túnel e o Blue Hole não se conseguia reconhecer. Assim nos despedíamos de Gozo, na manhã seguinte voltávamos para a ilha de Malta.

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Mais meio dia na ilha de Gozo seria o ideal, o décimo de que vos falo em cima, pois ainda haveria outros lugares a explorar como o “fjord” de Wied il-Għasri, ou a Basílica de Ta’Pinu. E já na ilha de Malta há também alguns lugares que nós não explorámos como a Vila do Popeye, as falésias de Dingli ou a Blue Grotto.

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DIA 7 – FERRY PARA MALTA / MARSAXLOKK / DELIMARA / ST. PETER’S POOL

Domingo é dia de mercado em Marsaxlokk, pelo que atravessámos todo o país, de norte a sul, para ir visitá-lo. O mar ainda estava tão agitado que no ferry de regresso a Malta demo-nos conta que nesse dia não havia barcos para Comino! Do porto de Cirkewwa, a ponta norte da ilha, até Marsaxlokk, a ponta sul, são 45min, mas no caminho parámos novamente no Is-Serkin, em Rabat, para comprar mais Pastizzi, Qassatat e Bolos de Tâmara, para comer mais tarde ou levar para Portugal como presente.

Chegámos a Marsaxlokk já às 11h mas ainda havia muito peixe nas bancas, para não falar de todas as banquinhas que vendiam toalhas, doces e também souvenirs. Para além do mercado, Marsaxlokk é conhecido pela sua baía repleta de barcos coloridos. São barcos de pesca tradicionais chamados “luzzu”, que datam da época dos fenícios.

Outra das atracções perto de Marsaxlokk é a famosa St. Peter’s Pool, mas como era domingo tive medo que estivesse ainda mais cheia que o normal. A menina do nosso alojamento, South Wind Guesthouse, sugeriu que fossemos a Delimara, uma outra baía a aproximadamente um quilómetro de St. Peter’s e disse-nos que a partir das 18h, já se conseguia estar na mais famosa. E que boa sugestão! Adorámos Delimara!

E quando estava farta de apanhar sol, agarrei na câmara e fui a pé, sempre ao longo do mar, até St. Peter’s Pool, passando por várias salinas e por uma outra baía, onde chegavam os barquinhos que vinham de Marsaxlokk para ali. A minha mãe foi lá ter de carro, demos um último mergulho e fomos preparar-nos para o jantar.

A oferta de restaurantes e esplanadas à beira-mar em Marsaxlokk é infinita. Escolhemos o Mr. Fitz, pelo incrível prato de marisco que oferecia, e despedimo-nos do vinho maltês. Afinal era o nosso último jantar em Malta!

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DIA 8 – IL-ĦOFRA L-KBIRA / MARSASKALA / REGRESSO

Só tínhamos de estar às 16h no aeroporto, pelo que ainda dava tempo de explorar mais umas baías pelo sul e de finalmente voar o drone, depois de dias e dias de muito vento. Decidimos ir a Il-Ħofra l-Kbira, a praia favorita da nossa anfitriã em Marsaxlokk, de facto muito bonita e tranquila! Depois foi tempo de revisitar todas as pequenas baías onde tínhamos estado no dia anterior, com a ajuda do meu amigo voador (sim, tenho finalmente um drone!) e de repente já se estava a aproximar a hora da partida, pelo que fomos até Marsaskala, tirar o sal do corpo nas casas de banho públicas e almoçar no bar de praia, antes de ir para o aeroporto.

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Para regressar tinha de fazer um teste Covid e Portugal aceitava um teste antigénio, não era necessário ser PCR, pelo que fiz directamente no aeroporto, com a swabbingmalta. Apesar de muito prático, o teste foi tão mal feito, tão à superfície, que eu tinha a certeza que ia estar negativo. 20min depois lá recebi a confirmação. Para devolver o carro foi também super rápido e assim se acabavam as férias.

Na descolagem conseguimos rever quase todos os lugares por onde passámos, foi a melhor forma de nos despedirmos deste pequeno e maravilhoso país!

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