Este ano aconteceu a Festa dos Tabuleiros, em Tomar, festa celebrada a cada quatro anos e uma das mais típicas e antigas de Portugal, que remontam historicamente ao reinado de D. Dínis no quadro do culto do Espirito Santo, mas que se acredita que tenham origens pagãs, ainda mais antigas, oferendas à deusa Ceres por volta do Solstício de Verão , simbolismo da fertilidade da terra e consequentemente a busca da fertilidade das mulheres.
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O ponto mais alto da Festa, que decorre durante várias semanas entre Junho e Julho, é o Cortejo dos Tabuleiros, que este ano se celebrou no dia 7 de Julho, dia em que nós e mais 600 mil pessoas acudiram à cidade de Tomar. Optámos por ir de comboio desde Lisboa, pois imaginámos que seria um caos levar carro. Foi a melhor opção e só enche mesmo no Entroncamento, já a pouca distância de Tomar. Mal chegámos dirigimo-nos à Mata Nacional dos Sete Montes, onde no dia anterior tinham sido depositados todos os 748 Tabuleiros que iriam desfilar. Infelizmente já não dava para visitar pois já tinham vendido todos os bilhetes disponíveis – uma amiga disse-me que o melhor dia da Festa é o dia anterior ao do Cortejo pois não há tanta gente nas ruas e vê-se o Cortejo parcial da chegada dos Tabuleiros à Mata e depois podem-se ver calmamente todos os tabuleiros dentro da Mata. A ideia era então procurar um sítio para fazer um piquenique, já que a Mata não era opção.
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Toda a cidade é enfeitada para a Festa, todas as ruas do centro enfeitadas com tapetes e “pérgolas” de flores de papel, cada uma mais bonita que a outra, as janelas e varandas com colchas penduradas dando cor à cidade. Para quem tinha fome e queria encontrar o sítio do piquenique rapidamente não teve sorte, pois queríamos fotografar tudo!
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Às 16h começava então o Cortejo, partindo da Mata faz um percurso de mais de 5km por toda a cidade. Os Tabuleiros são “torres” de vime enfeitadas com 30 pães de 400gr cada, flores de papel (tradicionalmente papoilas, mas hoje em dia já se vê de tudo – flores de alcachofra, de maracujá, girassóis, rosas e até alfaces e espigas de milho) e encimadas por uma coroa ou com a pomba do Espirito Santo ou com a Cruz Templária. Pesam cerca de 15kg cada e têm de ter pelo menos a altura das raparigas que os carregam. Cada rapariga leva um rapaz ao lado, o seu par, que as ajuda a aliviar um pouco a dor nos ombros quando estão paradas, que lhes acomodam melhor o Tabuleiro quando parece que vai cair ou, em casos extremos, que lhes levam o Tabuleiro, ao ombro, quando elas não aguentam mais. O percurso não é sempre seguido, há uma primeira paragem na Praça da República, à frente da Câmara Municipal e da Igreja de São João Baptista, onde os Tabuleiros são benzidos, numa cerimónia que ainda demora uns 30min. Há paragens noutros pontos da cidade para que descansem um pouco, para lancharem, etc. Eu escolhi ver o Cortejo na Rua Serpa Pinto pois os Tabuleiros passavam aí duas vezes. Estava cheia de gente mas conheci uma senhora de Tomar que me explicou a sua táctica: primeiro deixava passar o Cortejo para a Praça da República e como estava mais atrás e não conseguia ver as pessoas, dava mais atenção aos detalhes dos Tabuleiros. Uma vez passado o Cortejo e porque a benção demorava mais de meia hora, mais de metade das pessoas iam embora e assim nós conseguíamos avançar para a primeira fila. Assim quando elas voltavam já com os Tabuleiros benzidos, podíamos ver tudo outra vez mas agora dar mais atenção às caras delas e deles, perceber quem sofria, perceber que há raparigas de todas as idades, ouvir os incentivos, os muitos “Força!”, que elas tanto precisavam, ver quando uma ou outra eram reconhecidos pelas famílias e o orgulho nos seus olhos!
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Aguardando então na primeira fila e esperando que terminasse a Benção aos Tabuleiros, aprendi também que o sino toca três vezes e à terceira badalada eles e elas elevam os Tabuleiros todos ao mesmo tempo, coisa que pude ver desde longe. A abrir o cortejo vem uma das quatro bandas filarmónicas, passam os aguadeiros, passam destacados de cada Junta de Freguesia, transportando os pendões e coroas e inclusive o Presidente da República, o professor Marcelo Rebelo de Sousa, sempre com o seu sorriso simpático e a sacar aplausos à multidão. Começam os Tabuleiros, a meio outro momento musical, mais Tabuleiros e no final temos dois bois, que antigamente puxavam carros que levavam crianças – que agora vão a pé – e barris de vinho, e no final os Escuteiros, simbolizando então o Pão (os Tabuleiros), o Vinho (nos carros de bois) e a Carne (os escuteiros).
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Foi uma experiência muito interessante e bonita, mas com demasiada gente! Penso que, se quiser voltar daqui a quatro anos, vou tomar o conselho da minha amiga e ir a Tomar no sábado, em vez de no domingo
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