Tenho uma amiga alemã, a Elena, a dar aulas em São Tomé durante três meses por isso pedi o voo para lá, uma óptima desculpa para visitar esta bela ilha! Uma vez que já tenho direito a facilidades de passagem (aka levar amigos a preços especiais), a minha amiga Mariana decidiu acompanhar-me. O voo é longo, quase seis horas até Accra, mais uma no chão onde saem e entram passageiros e catering, e outra hora e pouco até São Tomé. A tripulação era grande e estando o dia todo a voar dei-me muito bem com uma das colegas, a Adele, que nos acompanhou no passeio no dia seguinte.
.
O objectivo era chegar à Praia-Piscina, uma praia na ponta sul da ilha, para muita gente a mais bonita de São Tomé. Saímos cedo pois a viagem é longa – apesar de não chegar a 75km, o estado das estradas a partir do Pico do Cão Grande é tão mau que quase mais vale ir a pé… mas vale totalmente a pena!
.
A Elena perguntou aos seus alunos onde deveríamos parar no caminho e eles deram-nos algumas boas sugestões. O caminho em si tem o seu interesse, nomeadamente para o olho europeu, não habituado ao modo como em África tudo é transportado no topo das cabeças, às galinhas e porcos que atravessam a estrada numa quase tendência suicida, entre outras coisas. A primeira sugestão, já vista da outra vez, mas em andamento, foi parar numa das várias pontes sob linhas de água cheias de mulheres e crianças a lavar roupa no rio e secá-la ao sol.
.
Pouco depois chegávamos à Roça de Água Itzé, uma roça construída nos anos 1910-20 e famosa por ter pertencido ao principal proprietário de origem negra – João Maria de Sousa Almeida. Esta roça era a sede da Companhia da Ilha do Príncipe tratando-se de uma das maiores e importantes unidades agrícolas do arquipélago. Como estávamos com algum receio de parar o carro no meio desta “roça-cidade” – apesar de a ilha ser segura, quatro raparigas brancas com máquinas fotográficas chamam demasiado a atenção – subimos até ao topo, onde se encontra o antigo hospital e de onde podemos ter uma bonita vista. Tive pena de não nos aventurarmos muito pelo interior da roça pois já vi fotografias bem bonitas desta…
.

 

 

 

.
A menos de cinco minutos da Roça encontramos uma formação rochosa na costa a que chamam Boca do Inferno. Uma espécie de fissura por onde entram as ondas, que podem atingir elevadas alturas pelo rápido afunilamento a que são sujeitas. Tal como na de Cascais, estamos sempre à espera de um inferno digno de nome, mas as expectativas saem goradas. Ainda assim a vista do mar a tocar na praia de seixo rolado e toda a vegetação tropical e abundante são de cortar a respiração!
.
Continuamos o nosso caminho, ainda em estrada bastante boa, o nosso próximo destino é a Roça de São João dos Angolares. Jantei aqui no ano passado, mas já chegámos depois do pôr do sol por isso não foi possível ver a vista. Desta vez foi e vale bastante a pena! Estavam a preparar as mesas para o almoço, mas ainda era demasiado cedo para pensar nisso então continuámos caminho.
.

 

 

.
Chegámos ao troço de frente que olha de frente para o enigmático Pico do Cão Grande. Íamos tirar fotografias quando vimos que havia uma chapa a reflectir o sol e que nos estava a estragar as fotografias. Avançámos para além da chapa, uma banquinha cheia de locais a tentar vender tudo e mais alguma coisa a turistas e ao fazer isso apercebemo-nos que eles estavam no ponto ideal para a fotografia, sendo impossível evitá-los. Decidimos que tirávamos então fotografias no regresso mas foi inevitável parar um pouco mais à frente, onde o Pico se enquadrava com uma lindíssima linha de água.
.
Começou então a parte horrível da estrada, buracos do tamanho do mundo, pedrinhas em vez de alcatrão ou terra batida, até chegarmos de facto à parte da terra batida… A Elena pensava duas vezes se quereria alguma vez regressar ao sul da ilha, eu faço tudo por boas fotografias por isso volto sem problemas. Chegámos finalmente à Praia-Piscina!
.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.
Com o calor e a humidade que se fazia sentir qualquer mar servia, mas este era de facto maravilhoso! A água fresca, naquela temperatura perfeita entre não nos queixarmos ao entrar e de nos refrescar imediatamente! A maré estava altíssima, por isso a piscina tinha bastante corrente e ondulação. Fiquei curiosíssima de a ver na maré baixa, quando a piscina é de facto uma piscina!
.
Íamos preparadas com farnel pois íamos para o fim do mundo, onde quase não há estradas e muito menos restaurantes, mas quando lá chegámos apercebemo-nos que uns senhores grelham peixe e até têm uma mesa na praia, fazendo trocar os grupos à medida que o almoço de uns e de outros está pronto.
.
Queríamos ficar mais tempo, mas um caminho de duas horas de regresso esperava-nos e queríamos evitar ao máximo fazê-lo depois de o sol se pôr pois não há iluminação eléctrica pelo caminho e há pessoas e animais na estrada que não são fáceis de ver, excepto quando já estamos mesmo em cima deles. Uma das desvantagens do Equador é que sendo Verão ou Inverno o sol põe-se sempre à mesma hora: demasiado cedo!
.
Restava-nos fotografar o caminho, agora banhado com a maravilhosa luz de quando o sol procura o horizonte, e fazer a tal paragem no Pico do Cão Grande, com a banca já quase deserta pelo avançar da hora.
.

 

 

 

 

 

.
Foi um dia maravilhoso que terminou com um jantar na Dona Teté, restaurante afamado da cidade de São Tomé onde a comida é de facto óptima! No segundo dia explorámos o centro da ilha, história para o próximo post 😉