Que expectativas tinhas da cidade e do país antes de chegar? A realidade é parecida com essas expectativas?
Tinha expectativas de encontrar o mesmo país que me recebeu durante a minha experiência com o programa ERASMUS em 2013: um sítio que valorizava a arte e a criação artística, que recebia estudantes internacionais de braços abertos e que promovia a integração e a aceitação de várias culturas. Quanto a Cambridge, tinha expectativas de encontrar uma cidade com um foco grande na história, na cultura e na vida académica.
Nem a cidade nem o país desapontou, mas a realidade é sempre diferente, não necessariamente para pior. O país continua a ser um grande ponto de referência na área das artes, mas por questões políticas e sociais recentes (catapultadas pelo voto a favor de sair da União Europeia), o país mudou. As condições para os estudantes internacionais já não são as mesmas, o ambiente de inclusão também não, etc. É uma altura muito instável para o país, de maneira que as minhas expectativas em relação ao futuro deles também têm vindo a alterar-se.
Da história. É uma cidade complexa e interessante, com muitas personalidades associadas a ela e muitas histórias caricatas.
E do que menos gostas?
Dos preços elevados, especialmente das casas. Um dos maiores problemas em Cambridge é com a taxa de sem abrigos que tem vindo a subir nos últimos anos. Para uma cidade tão focada nos estudantes, devia haver uma maior preocupação em proporcionar preços de habitação acessíveis.
Como caracterizas os ingleses?
Contrariamente à ideia popular que os ingleses são muito educados, a melhor maneira de os descrever é reservados. Eles cumprimentam sempre, perguntam como estamos, mas isto não é um convite para ouvir sobre os problemas das nossas vidas. Existe toda uma conduta social de distanciamento das primeiras vezes que abordamos os ingleses. Claro que com o tempo se tornam mais amigáveis, mas passar essa barreira não é tão fácil como com os povos do sul da Europa. Mas quando passamos, encontramos pessoas com um óptimo sentido de humor, que valorizam muito as peculiaridades de cada região do país, mas que também se orgulham muito do país como um todo e das coisas que produzem, por exemplo da comida, música, cinema. E claro que alguns dos clichés correspondem à realidade: a obsessão pelo chá, o gosto pelo tópico da meteorologia, etc.
Um dia normal para mim em Cambridge envolvia actividades diferentes ao longo do ano que lá estive. Normalmente acordava cedo quer fosse para ir para a biblioteca ou para um café escrever a minha dissertação, para ir a uma aula, para ir trabalhar para o estúdio, para ir ao ginásio. Durante o verão arranjei um trabalho num cinema, portanto os dias começavam geralmente nalgum desses sítios. Independentemente, o modo de deslocação era sempre a bicicleta, o melhor modo de transporte na cidade. Se tivesse sorte com o meu horário e com o tempo, as tardes podiam ser passadas a passear no centro da cidade, num dos parques, ao longo do rio ou a beber cerveja numa esplanada de um pub, normalmente sempre acompanhada com amigos. Se o tempo não estivesse tanto do meu lado, visitava museus, galerias ou lojas. Mais à noite, por vezes havia noites mais calmas com filmes, pizzas e chás num dos apartamentos da residência de estudantes onde vivia, outras vezes havia noites mais animadas, com jantares fora, bares e discotecas incluídas nos planos. Apesar de haver alguma rotina, as actividades podiam divergir bastante de um dia para o outro.
Cambridge é uma cidade relativamente pequena, portanto 3 dias são mais do que suficientes para ficarmos com uma boa ideia do que a cidade tem para oferecer. Eu aconselhava a visitar a King’s Parade, a rua mais histórica do centro de Cambridge, o rio Cam e as suas várias pontes (onde se possível se deve dar uma volta nos punts (barcos) da cidade, uma actividade típica), o Fitzwilliam Museum (ou outro dos museus da Universidade, dependendo dos interesses de cada um), a Market Square, a Great St. Mary’s Church (que se pode subir ao topo para ver a cidade de outra perspectiva), o parque Christ’s Pieces e o jardim botânico da Universidade de Cambridge para se ficar com uma boa ideia da cidade, mas isso não deve impedir as pessoas de pegarem numa bicicleta e de explorarem a cidade à sua maneira, visto que há muito para descobrir.
E que lugares nos sugeres para comer?
Para comer, não se pode evitar o The Eagle, um dos pubs mais antigos da cidade onde se reuniam frequentemente os investigadores que descobriram a estrutura do ADN. É o sítio perfeito para comer aqueles clássicos fish and chips, bangers and mash ou sheperd’s pie com uma (ou duas) pints a acompanhar. Para além da típica comida inglesa, o que gosto imenso em Cambridge é a oferta de comida internacional, seja mexicana (Las Iguanas), indiana (The Golden Curry), grega (The Olive Grove), italiana (Aromi)… Podia continuar esta lista incessantemente, a oferta parece que não acaba.
Depois de toda esta comida, aconselho ainda a passar no Fitzbillies para comer como sobremesa um Chelsea bun e no Chocolat Chocolat para beber um chocolate quente. Para os emigrantes com mais saudades da nossa comida, passem pela Old Norfolk Street Bakery para comerem um doce tradicional português e não só. Mas se já for demasiada comida, para mim os melhores cafés da cidade são o Espresso Library, o Urban Larder e o Hot Numbers Coffee (existem dois, mas eu aconselho o da Trumpington Street).
É uma tarefa difícil, mas não impossível. É uma questão de estarmos atentos às várias promoções e eventos gratuitos que vão surgindo. Por exemplo, se gostam de sushi, mas acham muito caro, a cadeia de sushi itsu baixa os preços por metade todos os dias 30 minutos antes de fechar (tem é que se estar lá uns 15 minutos antes da promoção começar para se apanhar os melhores combinados). Quase todos os pubs e bares têm happy hour, o que permite sempre poupar algum dinheiro com promoções tipo “pague um, leve dois”. Se querem ir um dia ao cinema, travem amizades com o staff do Light Cinema Cambridge que tem direito a bilhetes grátis para eles e um amigo que os acompanhe a uma sessão. E dependendo da altura do ano em que visitam a cidade, há vários eventos gratuitos ou baratos que valem a pena visitar. Alguns exemplos dos meus preferidos são a Bonfire Night (ou Guy Fawkes Night), o Art Language Location (um festival de arte com o qual colaborei na sua produção), a Midsummer Fair e a Mill Road Winter Fair. E nunca esquecer do cartão de estudante que tantos descontos dá, quer em museus, como em restaurantes ou lojas de roupa!
Qual a maior “tourist trap” da cidade?
Até me custa dizer isto, porque eu própria cheguei a gastar dinheiro aqui e achei que valeu a pena, mas fazer visitas às faculdades principais da Universidade de Cambridge custa algum dinheiro e são zonas carregadas de turistas. Para contornar a situação, pode-se visitar algumas das faculdades menos populares que são igualmente bonitas e que permitem descobrir mais sobre a universidade. O bónus é que algumas têm vistas privilegiadas para os campus das faculdades mais “famosas”. Pessoalmente, aconselho visitar a Downing College, a Christ’s College e a St. John’s College (grátis para residentes de Cambridge).
Mais uma vez, os preços altos da cidade não perdoam. Para se poupar dinheiro e se ficar perto do centro, aconselho uma guest house ou um b&b menos concorrido que não fique na zona histórica. Perto da estação de comboios acho uma opção prática.
Quais os melhores locais para sair à noite?
Todas as saídas à noite, antes de mais, começam em casa. Os ingleses levam muito a sério a cultura das pre-drinks, portanto se algum amigo nos convida para uma “festa antes da festa” nunca se deve ir de mãos a abanar. Leva-se sempre alguma bebida alcoólica, de preferência para se partilhar. Depois, se procuramos uma discoteca típica, a Revolution, a Lola Lo e o The Regal Wetherspoon são óptimas. Se a noite puxa mais para a conversa e menos para a dança, pessoalmente eu gosto de bares e pubs como o The Tram Depot, o The Cambridge Blue, o The Maypole ou o Prince Regent.
Qual o teu lugar preferido (bairro, edifício, café, livraria…) ou actividade preferida?
O meu lugar preferido é todo o caminho junto ao rio Cam que costumava fazer de bicicleta (a minha actividade preferida em Cambridge).
Uma boa história para contar. Quer seja pelas inúmeras histórias curiosas e caricatas associadas à cidade quer seja pelas memórias que construímos nesta cidade. Cambridge é um sítio feito por relatos e não se sai de um sítio assim sem umas boas histórias para se contar. Se estiverem à procura de algo físico para se lembrarem da vossa viagem, aí não podem sair de Cambridge sem uma das camisolas/cachecóis da vossa faculdade preferida da Universidade de Cambridge.
Obrigada Inês, pelo teu incrível testemunho e óptimas dicas que me deixaram cheia de vontade de ir a correr visitar Cambridge! Para seguirem o trabalho da Inês podem ver aqui o seu portfolio artístico!
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