A península do Yucatán é dos lugares mais impressionantes e variados que alguma vez conheci! Vivi na sua capital, Mérida, durante um semestre, e esta cidade é um óptimo lugar de partida para visitar vários outros lugares deste belíssimo estado, já que se encontra numa posição bastante central em relação aos vários lugares que vos trago hoje. Antes de mais não percam o post sobre o que fazer em Mérida, para então seguirmos para os vários tours de um dia que podem fazer a partir desta maravilhosa cidade.

Mérida está rodeada por um número infinito de ruínas maias, incríveis cenotes (as piscinas naturais que nascem de rios subterrâneos, únicos na região), antigas haciendas de henequen (o chamado ouro verde), calmas praias banhadas pelo Golfo do México, e curiosas aldeias maias que vão pontuando o caminho. Há sempre uma aventura a explorar no Yucatán!

Chichén Itzá

Chichén Itzá significa, na língua maya, “a boca do poço dos bruxos de água” e é conhecida em todo o planeta por ser uma das sete maravilhas do mundo moderno! Não só pela arquitectura mas também por todos os fenómenos acústicos e significados relacionados com esta cidade, é um dos lugares imperdíveis da península – mas não são as minhas ruínas favoritas! Um exemplo dos fenómenos acústicos é bater palmas à frente da escadaria d’El Castillo (ou Templo de Kukulkan), a maior pirâmide – vão ouvir o eco do piar do quetzal, a ave sagrada desta cultura. Se falarmos em significados temos o exemplo da escadaria desta pirâmide – se somarmos os 91 degraus de cada um dos quatro lados, mais um grande degrau no topo, temos os 365 dias do ano. Hoje em dia é proibido subir el Castillo, não só porque a UNESCO quer preservar o monumento mas também porque, infelizmente, há uns anos, uma turista alemã caiu e morreu (dizem que foi o último sacrifício maya).

Outra das grandes atracções deste sítio arqueológico é o maior campo de pok-ta-pok que eu visitei em todo o país (o jogo da bola maya que também entra no filme El Dorado). Duas equipas, de sete jogadores cada, confrontavam-se, seis jogadores no centro e o capitão de cada equipa em cima, perto de cada argola. O objectivo era passar uma bola de 3kg por dentro do arco, que estava a uma altura de 8m, podendo tocar a bola com qualquer parte do corpo excepto mãos e pés. O capitão que marcasse primeiro ganhava o jogo e era o grande escolhido pelos Deuses para ser sacrificado. O capitão da equipa perdedora, teria de decapitar o capitão vencedor, visto como algo bastante vergonhoso, uma vez que ele não era o escolhido pelos Deuses, e depois era banido da cidade e novos jogadores eram recrutados – eventualmente todos morreriam, ou decapitados, ou expulsos. Também no campo de pok-ta-pok acontece um fenómeno acústico interessante – estando de um dos lados do campo, quando se faz algum barulho, esse ruído ecoa sete vezes, o número de jogadores de cada equipa.

Uma altura interessante para visitar Chichén Itzá é nos equinócios. A 21 de Março e de Setembro, ao pôr do sol, a luz desce a serpente do Templo de Kukulcan, parecendo que esta está viva. Infelizmente, no ano em que fui, as nuvens eram tantas que o sol não apareceu, impedindo-nos de ver o fenómeno.

Infelizmente este é um dos lugares mais visitados no México por isso está cheio de vendedores de artesanato e bugigangas e ainda mais cheio de turistas. Dos vendedores é difícil fugir, dos turistas, é chegar o mais cedo possível! As ruínas abrem às 8h e fecham às 16h30 e as grandes multidões, que vêm dos resorts na Riviera Maya começam a chegar por volta das 11h. Demora cerca de 90min o trajecto desde Mérida até Chichén Itzá e a melhor opção é marcar um tour desde Mérida, que inclua preferencialmente a visita a alguns cenotes. A entrada no sítio arqueológico é de cerca de 500$MX.

Ruta Pucc – Uxmal, Kabah, Labna, Xlapak, Sayil

A Ruta Pucc é um tour fascinante para fazer a partir de Mérida. Esta rota atravessa o Yucatán e liga várias ruínas do período arquitectónico Pucc, cujo traço mais característico é a repetição nas fachadas de Chaac, o deus da chuva. É possível visitar estes sítios arqueológicos de autocarro, num tour organizado (que tem a vantagem de já ter guia incluído) ou em carro particular e como não são tão famosos como outros sítios como Chichén Itzá, é possível admirar estas estruturas, construídas algures entre 600-1100 d.C., quase sem mais ninguém. Os vários complexos são ligados por sacbes, as antigas estradas mayas.

Na sua mais básica definição, a Ruta Pucc estende-se por 30km e liga os três complexos de Labna, Xlapak e Sayil, mas numa definição mais alargada inclui também as cidades de Kabah e Uxmal, para mim as mais interessantes das cinco, duplicando o comprimento da rota para 58km. As cinco ruínas são consideradas Património da Humanidade pela UNESCO, tendo como base o sítio arqueológico de Uxmal, o maior e mais impressionante.

O mais indicado é começar o tour pelo sítio de Labna, o mais afastado de Mérida, que teve o seu apogeu entre 800 – 1000 d.C. e onde viviam cerca de 2500 pessoas. Depois de um passeio arborizado surge El Palacio, uma das mais longas estruturas da região Pucc e do outro lado do campo de ruínas sob o intenso sol yucateco encontra-se El Arco, que se acredita ter sido a entrada para famílias de classe alta que aqui residiam há milhares de anos. Entre as duas estruturas encontramos a pirâmide El Mirador, que hoje em dia parece apenas uma estrutra construída no topo de uma colina cheia de pedras. A entrada custa 55$MX e está aberto das 8h às 17h.

As ruínas de Xlapak são o complexo mais pequeno da rota mas não é por isso que devem ser ignoradas, até porque é o único complexo dos cinco cuja entrada é livre! Existem três complexos de palácios em Xlapak, um deles destaca-se por ser adornado por máscaras do Deus da chuva, Chaac. Esse palácio está rodeado por ruínas que antigamente eram complexos residenciais, tudo no meio da selva seca yucateca. Também esta cidade teve o seu apogeu no período clássico maia entre 800 – 1000 d.C e está aberto das 8h às 17h.

O grande palácio de três andares em Sayil é uma visão impressionante após uma visita a Xlapak, porém não é permitido subir a grande escadaria deste edifício. Mas, como na maioria das ruínas de Ruta Puuc, não deixem de observar de perto as curiosas máscaras de Chaac. Acredita-se que chegou a ter 10,000 habitantes no seu ponto mais alto, em redor do ano 900. A entrada custa 55$MX e está aberto das 8h às 17h.

Depois de visitar as três cidades “básicas” da ruta Pucc, as ruínas começam a crescer. Encontramo-nos em Kabah, outra cidade que se acredita ter chegado a 10,000 habitantes entre 600 e 1000 d.C. Aqui não podemos contar com a sombra das árvores, já que estas fascinantes ruínas foram afastadas da floresta adjacente. Os palácios Codz Pop e o das Máscaras são as únicas estruturas que se podem visitar por dentro em todo o complexo e as mais interessantes, especialmente o Palácio das Máscaras, com o maior número de máscaras de Chaac de toda a península, mais de 300. A entrada custa novamente 55$MX e está também aberto das 8h às 17h.

Chegamos finalmente a Uxmal, o complexo mais importante de todos. Eu estive lá duas vezes, na primeira à noite, no culminar da Ruta Pucc, para ver o espectáculo “Luz y Sonido“, um videomapping de pouco qualidade em que é contada a história das ruínas apenas em espanhol, da segunda quando fui apenas visitar este complexo, durante o dia, porque afinal não o tinha visto com luz! Uxmal é sem dúvida o ponto alto desta rota e pela sua escala, é importante que se chegue com algumas horas disponíveis para se visitar! Aqui viveram, há cerca de 1100 anos, 25,000 mayas, distribuídos por múltiplos palácios de importância política, residencial e religiosa, campos de pok-ta-pok e até uma enorme e íngreme pirâmide! Não é permitido escalar esta pirâmide mas é possível subir e entrar em muitos dos edifícios distribuídos pela área e ter uma impressionante visão de conjunto desde o cimo do Palácio del Gobernador! A entrada custa 418$MX e está aberto das 8h às 17h

Quando fiz o tour da Ruta Pucc, visitámos também as grutas de Loltun. Antes de mais aviso que é impossível visitar os cinco complexos arqueológicos e as grutas num só dia, por isso é que nesse dia não visitámos Uxmal, apenas assistimos ao espectáculo nocturno, e tive de regressar noutro dia. Se tiverem dois dias disponíveis sugiro que visitem as grutas, que valem a pena, e os primeiros quatro complexos no primeiro dia e no dia seguinte visitem Uxmal logo pela manhã, quando está mais fresco. Apenas é possível visitar as grutas com um guia e os horários de partida são os seguintes: 9:30, 11:00, 12:30, 14:00, 15:00 ou 16:00. O tour será em espanhol excepto se a maioria do grupo não falar a língua e a entrada tem um custo de 141$MX.

Ek Balam

Ek Balam é um sítio arqueológico a 30km a norte da cidade de Valladolid e o seu nome significa, em maya, jaguar negro. Considerado maya pré-clássico pode-se dizer que serviu de rascunho às grandes cidades do modelo clássico mas não é por isso menos interessante – e obviamente, por ser menos conhecido, conta com muito pouco turismo, algo essencial para se apreciar melhor um lugar. Para entrar na cidade, tinham um conjunto de três muralhas, numa espécie de labirinto com portas desalinhadas, com apenas 3m de altura – altas o suficiente para evitar que o maya médio de 1,45m as conseguisse subir. Finalmente na última porta eram obrigados a subir uma rampa, o que os obrigava a ter o corpo numa posição de vénia, como respeito à cidade. Já dentro encontramos várias pirâmides, todas “subíveis”, e também um campo de pok-ta-pok. A entrada custa 413$MX (deve ter ficado famosa, que em 2015 era grátis) e está aberto entre as 8h e as 17h.

A 1,5km do lugar arqueológico encontramos o cenote X’canché. Para lá chegar pode-se ir a pé, de bicicleta (que se aluga no início do percurso) ou pagar a um “bici-taxi” para nos levar. O cenote é aberto e a água está 15m abaixo do nível do solo, conta com coletes salva-vidas para quem os quiser alugar pois as águas são profundas e ainda é possível fazer rappel até à água ou slide por cima do cenote, tudo a um preço extra, e também acampar – eu passei aí uma noite na altura do equinócio em 2015 e foi muito giro, de manhã fomos despertados pelo famoso pássaro Toh, com a sua longa cauda em pêndulo.

Cenotes

A península do Yucatán é conhecida por não ter rios às superfície, apenas rios subterrâneos. E a qualquer acesso que se tenha a estes rios subterrâneos, sejam abertos ao ar ou em grutas, chamam-se cenotes. Há milhares de cenotes na península, alguns parecem lagos à superfície, outros estão debaixo de terra e podem ter apenas uma pequena abertura de luz, com vegetação a entrar, parecendo que estamos num filme lindíssimo, e há até alguns que são encontrados debaixo de casas de pessoas e depois explorados pelos próprios habitantes. Em quase todos os cenotes estão diponíveis coletes salva-vidas para alugar – é impressionante a quantidade de mexicanos que não sabe nadar – e em alguns é também possível alugar material de snorkel!

Os primeiros cenotes que visitei foram também os mais bonitos. Não muito longe da cidade de Valladolid e das ruínas de Chichén Itzá encontramos dois cenotes que partilham infraestruturas turísticas, os cenotes de Samulá e Xkeken. Visitei-os precisamente depois de visitar o sítio arqueológico, ideal para nos refrescar-mos. Estes dois cenotes são semi-cerrados, o que nos dá uma sensação de que estamos num outro mundo, e têm inúmero peixinhos daqueles que nos comem as peles mortas dos pés, faz imensa comichão se ficarmos parados um bocadinho, é tão engraçado! Nesse dia fomos também ao cenote Oxman, dentro de uma antiga hacienda, este é completamente aberto e tem uma corda, estilo liana, para se saltar para a água.

Há também algumas regiões conhecidas pelos seus cenotes, como a região de Homun. Aqui há vários bici-taxis que vendem tours aos vários cenotes, depende do visitante quanto tempo quer passar naquele lugar, quantos cenotes quer visitar, e acorda-se então um preço com os rapazes locais. Quando fui visitei quatro cenotes: Cenote Bal-Mil, Cenote Yaxbacaltun, Cenote Santa Rosa e Cenote Stza Ujun Kat. O primeiro era numa gruta, cheia de estalactites em que a única luz natural vinha do buraco onde tinham instalado a escada para aceder às profundezas da terra e que acompanhava as raízes de uma árvore. O segundo era o mais aberto, com bastante luz natural. O terceiro completamente fechado, com uma plataforma para mergulhos. O quarto era o mais interessante e diferente – debaixo de um grande buraco que lhe dava alguma luz natural, construíram um murinho que delimitava uma área com várias plantas, uma espécie de arranjo floral para decorar o cenote, e a toda a volta tínhamos então água e as estalactites mais gordas que alguma vez vi, algumas já a tocar na água.

Outra região conhecida pelos seus cenotes é Cuzamá. Aqui a peculiaridade é que há uma linha férrea que liga os vários cenotes mas em vez de termos um comboio, temos um carro de mineiro com bancos de madeira puxada a cavalo que nos leva através da floresta yucateca até aos três cenotes a visitar, o primeiro numa gruta, o segundo também numa gruta mas com a peculiaridade de estar a 24m de profundidade, em que se chegava através de vários escadotes de madeira e de metal – e obviamente quando não há nenhuma luz natural (apenas luz artificial) e as águas do cenote são profundas, começamos logo a imaginar monstros a puxarem-nos para as profundezas, tal filme de terror de baixa qualidade 😛 – e o terceiro já aberto, como eu gosto mais, sem dúvida o mais cénico dos três. Os preços devem variar entre 300 e 400$MX, dependendo do operador turístico (X’Tohil, Cuzama, e Chunkanán, cada um vai a cenotes diferentes, os das minhas fotografias são com o último operador).

Rio Lagartos e Las Coloradas

O lugar ideal para os amantes de vida animal, este parque natural na ponta mais a norte do estado é o lugar ideal para uma tarde tranquila entre amigos, crocodilos, flamingos, pelicanos e outras aves. Chegando à cidade de Rio Lagartos há que encontrar um barco que nos leve a passear (das duas vezes que fui já ia com tudo organizado desde Mérida, uma vez com um grupo de estudantes de intercâmbio, da segunda com a escola. Provavelmente é possível fazer o mesmo). O parque consiste num braço de água paralela ao mar, com várias entradas, e é maioritariamente constituído por mangal. O passeio consiste em algum tempo de barco para observar a fauna e depois deixam-nos numa área lamacenta onde é possível observar os flamingos – infelizmente não se deixam chegar muito perto, sempre que nós nos tentávamos aproximar eles voavam para mais longe, que também é por si um fenómeno maravilhoso. Das duas vezes que fui apresentaram-nos também uma espécie de trilobita.

Também é típico desta região cobrirem-nos com “lama maya”, que dizem que faz maravilhas à pele. Tudo isto ainda com os barcos, que nos levam para uma zona de salinas para esta parte da experiência. Regressando à cidade, é possível lavar-nos no próprio pontão onde os barcos nos deixam.

Outras salinas que ficam perto de Rio Lagartos e que fazem sempre parte da visitar são Las Coloradas. Recebem este nome por terem microorganismos que deixam as águas cor-de-rosa. Das duas vezes que fui já foi perto do pôr do sol, mas tenho imensa curiosidade de as ver em plena luz do dia!

Izamal e Valladolid

Por toda a península há várias cidades, vilas e aldeias de grande interesse. Mas o México inventou uma forma de destacar aquelas mais impressionantes, dando-lhes a denominação de “Pueblo Mágico“. No Yucatán há duas – Izamal e Valladolid!

A primeira fica a apenas 50km a este de Mérida e é conhecida pela Cidade Amarela porque 90% dos seus edifícios estão pintados dessa cor. É a cidade ideal para fotógrafos! No centro da cidade encontra-se o convento franciscano de Santo António de Pádua (entrada livre, 5$MX para entrar no museu aberto das 10h às 13h e das 15h às 18h de segunda a sábado e das 9h às 17h os domingos). Por toda a cidade encontram-se também várias construções dos tempos mayas. Não deixem de visitar a pirâmide Kinich-Kakmo, que oferece, do seu ponto alto, uma visão geral da cidade. Uma forma de explorar a cidade é numa das carruagens puxadas a cavalo que se encontram na praça principal, ao lado do convento (uma hora custa 200$MX).

O outro “Pueblo Mágico” e a segunda maior cidade do estado é Valladolid. Passei por ela umas três vezes mas nunca fui mais longe que da praça central onde se encontra a Igreja de São Gervásio e o Palácio Municipal, onde se encontra o ponto de informação turística e de onde se pode ter uma visão geral da praça, desde o primeiro piso, onde também se podem observar várias pinturas que representam os mayas e a chegada dos espanhóis à península. A cidade de Valladolid poderá ser um lugar para se considerar ficar uma noite ou outra, uma vez que as ruínas de Chichén Itzá e Ek-Balam e alguns dos cenotes que referi encontram-se mais perto desta cidade que de Mérida. É também importante experimentar as marquesitas, uma espécie de crepe doce mexicano, que são vendidas na praça central.

Obviamente que há mais sítios arqueológicos, mais cenotes, mais cidades e mais lugares para descobrir. Vivi cinco meses em Mérida e fiquei com muitos lugares ainda por descobrir! Para quem já lá foi, que outros lugares consideram indispensáveis?