Cidade do México, capital do país que recebeu o nome da tribo que aqui vivia, os Aztecas, que se autonominavam Mexicas. Cidade do México, a terceira maior cidade do mundo, com mais de 20 milhões de habitantes. Cidade do México, terra de chilangos, cidade de contrastes, cidade de cultura.

Já estive muitas vezes na Cidade do México, seja a visitar, seja de passagem e por isso hoje decidi compilar aqui o que mais importante há para ver no antigo Distrito Federal. Ouve-se que a Cidade do México é uma cidade perigosa, a verdade é que eu nunca me senti em perigo, ou ameaçada. Obviamente que há colónias mais seguras, como Polanco, a Condesa ou Roma e que há zonas menos aconselháveis, como o norte da cidade ou os arredores, já entrando no Estado do México. Deve-se evitar o metro em hora de ponta e optar por Ubers ou “taxis seguros” sempre que possível. Comecemos então:

Dia 1

Comecemos no Zócalo, a praça principal da Cidade do México, onde encontramos o Palácio Nacional, onde todos os 16 de Setembro se ouve o grito da Independência proferido pelo presidente, a Catedral Metropolotina, a maior do continente americano, e a maior bandeira mexicana que algum dia poderão ver! A visita à catedral é grátis e tem um coro lindíssimo, que se pode visitar em alguns dias da semana.

Também o Palácio Nacional, casa do Governo Mexicano e residência oficial do presidente, é de entrada livre, pela rua Moneda, e inclui belíssimos murais de Diego Rivera que retratam a história do México, desde as culturas pré-colombianas, a conquista espanhola, a ditadura de Porfirio Díaz, a guerra contra os americanos, as invasões francesas, a inquisição, a revolução mexicana, etc. É também possível ver algumas das salas onde o governo mexicano e o presidente trabalham.

Ao lado encontramos o Templo Mayor, resquícios da grande cidade de Tenochtitlan, que os espanhóis conquistaram aos mexicas, cidade essa construída no meio do lago de Texcoco. A maior parte dos edifícios da cidade pré-colombiana foram destruídos e as suas pedras usadas para construir casas e igrejas de estilo colonial, pelo que este templo é dos poucos lugares que podemos observar referentes a este período da história. Inclui também um museu com várias peças recolhidas por toda a cidade e a entrada custa 80$MX, não abre 2as feiras.

Na Avenida Francisco I. Madero, pedonal e cheia de restaurante e lojas, encontramos a Casa de los Azulejos, bonito por dentro e por fora, e a Torre Latinoamericana, que tem um piso panorâmico no topo (nunca subi, custa 130$MX). Ao fundo da rua encontramos o Palácio de Bellas Artes, um belíssimo edifício que acolhe um teatro, um restaurante, inúmeras salas mais pequenas para concertos ou exposições e os mais bonitos murais pintados por Diego Rivera, Jorge González Camarena, José Clemente Orozco entre outros. Há horários para visitas guiadas (consultem o site) e é a única forma de se ver os murais de perto.

No centro encontram muitos outros museus (Museu Mural Diego Rivera, Museu de Tequila e Mezcal, Museu de Arte PopularMuseu da Cidade do México…), o que apresento acima é o inevitável, se tiverem mais tempo, partam à descoberta!

 

Dia 2

Começamos o dia no Museu Nacional de Antropologia, considerado um dos melhores museus do mundo. O museu conta a história do México através das pessoas que o habitaram, desde a pré-história às várias civilizações pré-colombianas – mayas, toltecas, aztecas, zapotecas, etc. (piso inferior), às actuais culturas que ainda se encontram por todo o país, com as suas tradições, danças, festividades e costumes (piso superior). O museu é enorme, pelo que é impossível vê-lo todo de uma vez. A primeira vez que fui, em 2015, vi o piso inferior em 5 horas, desta vez, 2020, o piso superior em 3 horas.

O museu encontra-se no Bosque de Chapultepec, o pulmão da cidade. Vale sempre a pena dar um passeio por este grande parque. Mesmo à frente do Museu de Antropologia encontram-se os Voadores de Papantla, um costume que remonta ao período pré-clássico médio mesoamericano e que se associa com a caída das chuvas e consequente fertilidade da terra. Quatro “voadores” descem um poste de 30metros, amarrados pela cintura e de cabeça para baixo, enquanto um quinto fica no topo a tocar flauta e tambor (desta vez eram só quatro, pelo que um dos voadores vinha a tocar o tambor e a flauta enquanto descia). Desde 2009 que é Património Cultural Imaterial da Humanidade. No Bosque encontra-se ainda o Castelo de Chapultepec, que alberga o Museu Nacional de História, o Museu de Arte Contemporâneo Rufino Tamayo, o Museu de Arte Moderno, o Centro Cultural Los Pinos, antiga residência oficial da presidência, transformada em museu desde que o actual presidente, André Manuel Lopes Obrador, decidiu regressar ao Palácio Nacional, e o Jardim Zoológico, que se destaca pelo seu urso panda e pelo borboletário. Poderiam passar todo um dia neste bosque!

No lado este do Bosque encontra-se a famosa Av. Paseo de la Reforma, zona de escritórios e prédios altos, com várias rotundas ao longo da avenida com famosas esculturas como a do Anjo da Independência, a Fonte de Diana Caçadora ou o Monumento a Cuauhtémoc. Mais à frente, na Plaza de la República, encontramos o Monumento à Revolução, com uma vista panorâmica no topo (entrada 34$MX) e que também inclui um pequeno museu sobre a Revolução mexicana.

 

Dia 3

Este dia será passado em Coyoacan, uma colónia no sul da cidade onde se encontram vários museus referentes à vida de Frida Kahlo e Diego Rivera. A mais famosa é a Casa Azul, onde a pintora nasceu, viveu e morreu. Aqui também deu asilo a Trotsky e à sua mulher e viveu com Diego Rivera, já depois de casados. Na casa pode-se ver a sua máscara mortuária, o espelho que instalaram no dossel da sua cama para que ela se pudesse pintar enquanto recuperava do acidente viário que sofreu aos 18 anos e que a deixou incapacitada para o resto da sua vida e alguns dos seus quadros. Tem também um bonito jardim e uma exposição sobre as suas roupas, um movimento pelos trajes típicos mexicanos que Frida defendia. Esta é das atracções mais caras da cidade, 250-270$MX entrada, dependendo se é dia de semana ou fim de semana, mais 30$MX para tirar fotografias. Há descontos para nacionais, fechado 2as feiras. O bilhete inclui também a entrada no Museu Diego Rivera – Anahuacalli, também em Coyoacan, uma colecção que Diego quis deixar ao povo mexicano de figuras pré-hispânicas e cujo edifício em pedra vulcânica foi construído precisamente para o efeito, como uma obra artística habitada.

Também o bairro de Coyoacan vale a pena visitar, desde a sua fonte com dois coyotes à frente da igreja de São João Baptista ao Mercado de Coyoacan, onde se pode comer, comprar piñatas e souvenirs, especiarias, fruta, tortillas, carne, peixe ou roupa.

Depois de almoçar no mercado continuamos para o Museu Casa Estúdio Diego Rivera e Frida Kahlo, no bairro San Angel (aproximadamente 4km desde o mercado, passeio agradável de uma hora ou então ir de taxi). Aqui era onde o casal trabalhava, cada um tinha o seu estúdio em edifícios separados, ligados por uma ponte. As casas foram desenhadas pelo arquitecto Juan O’Gorman, que construiu a sua casa no lote ao lado, exclusivamente para trabalhar, mas após a morte de Frida, Diego instalou uma cama no seu estúdio e passou a viver ali. A entrada custa 35$MX, excepto ao domingo que é grátis, mais 30$MX para tirar fotografias. Fechado 2as feiras.

Dia 4

Que tal sairmos por umas horas da Cidade do México e irmos até às ruínas de Teotihuacan? O meu post anterior a este foi precisamente sobre esta cidade pré-colombiana a cerca de uma hora da capital (autocarro 8 a partir da Terminal del Norte, 100$MX ida e volta). Recomendo que vão com tempo, levem chapéu, água e protector solar e bons sapatos para caminhar pois toda a extensão do complexo arqueológico é de mais de 2km, pela Avenida de los Muertos. Subam a todas as pirâmides que possam e se tiverem oportunidade contratem um dos guias à porta. Aberto todos os dias do ano, entrada 80$MX.

De regresso podem ir comer à La Polar e pedir tacos de birria, os melhores deste género da cidade! Com sorte apanham um concerto de mariachi! Ou então ao El Vilsito para os melhores tacos al pastor!

Dia 5

Uma manhã de arquitectura! Há várias opções excepcionais na Cidade do México, a primeira a Casa Estúdio Luís Barragan, o único edifício na América Latina distinguido património mundial da UNESCO, que declarou que esta é uma obra-prima dentro do desenvolvimento do movimento moderno, que integra numa nova síntese elementos tradicionais e vernáculos, assim como diversas correntes filosóficas e artísticas de todos os tempos. A casa está conservada tal como o autor a habitou até à sua morte em 1988. A visita à casa é guiada (consultar horários no site) e tem um custo de 400$MX. É necessário uma permissão especial para tirar fotografias no interior da casa, eu não a tinha, pelo que as fotografias do interior são deste site.

Outra opção é o edifício da Biblioteca Central e a Reitoria da UNAM – Universidade Nacional Autónoma de México (não muito longe da Casa Estúdio Frida Kahlo e Diego Rivera, se conseguirem ainda lá passar depois do dia dedicado a este casal). O edifício da Biblioteca é também da autoria de Juan O’Gorman, com a ajuda dos arquitectos Gustavo Saavedra y Juan Martínez de Velasco e foi construído em 1950. Foi o primeiro que teve a ideia de fazer um mosaico em pedra para as fachadas cegas do acervo do edifício. Para isso teve de percorrer toda a república mexicana para encontrar pedras das mais variadas tonalidades, uma vez que não era opção pintar pedras, pois isso não ia resistir ao tempo e à intempérie. Este mosaico é o que nos leva à UNAM!

A terceira alternativa à manhã dedicada à arquitectura é o museu Soumaya, no bairro de Polanco, desenhado pelo arquitecto Fernando Romero e parte da Fundação Carlos Slim (o homem mais rico do México).  O edifício alberga variadas obras de arte de vários períodos artísticos e culmina numa sala com uma grande clarabóia onde encontramos várias esculturas de Salvador Dalí, entre outros artistas. Entrada gratuita.

À tarde devemos ir a Xochimilco, o melhor lugar na cidade para se entender que há 500 anos tudo isto era água! Podemos alugar uma trajinera, os barquinhos locais, todos decorados, e dar uma volta pelos canais. Noutros barcos mais pequenos encontramos pessoas a vender comida e bebida, artesanato, mariachi, de tudo. Há várias ilhas onde encontramos maioritariamente agricultura e outra bem peculiar e meio creepy, cheia de bonecas, a Isla de las Muñecas. O preço dos barcos, por hora, é de aproximadamente 500$MX (pode ter subido entretanto), o preço está tabelado, por isso não se deixem enganar!

Aproveitando ter ido tão a sul, podem visitar o Museu Dolores Olmedo. Eu nunca o visitei mas ouvi dizer que vale muitíssimo a pena, não só pela colecção que inclui obras principalmente de Diego Rivera e Frida Kahlo mas também 600 peças pré-hispânicas procedentes das mais variadas culturas mesoamericanas, como também pelos cães xoloitzuintles, uma raça sem pêlo que remonta aos Aztecas, que passeiam pelo jardim do museu.