Cuba é um país que sempre esteve presente nas conversas em minha casa, um dos destinos de sonho do meu pai, o comunismo no seu estado mais puro. Vivia no México quando se começava a falar da abertura do embargo que o governo americano teria imposto a Cuba em 1960, como resposta às expropriações das propriedades de cidadãos e companhias americanas na ilha, levadas a cabo pelo ainda incipiente governo revolucionário cubano. Essa “ameaça” de abertura, aliado ao facto de uma das minhas colegas de casa ser cubana, fez com que passasse as minhas férias da Páscoa na maior ilha das Caraíbas.

Na verdade a minha opinião sobre Cuba não é totalmente positiva. Ao fim de duas semanas saí de lá bastante cansada com o constante peditório, com a associação imediata que, se ali estamos é porque temos algo para lhes dar, com o constante aliciar de qualquer serviço que tenham para oferecer, especialmente taxis. A verdade é que quando lá cheguei o meu conhecimento sobre o estado político e económico de Cuba não era muito e quando cheguei também não conseguia identificar-me com essa realidade, pôr-me no papel deste povo.
 Se estão à espera que Cuba seja barata, estão enganados. Cuba é barato para os cubanos (barato aos nossos olhos, muitos nem dinheiro têm para papel higiénico), mas muito cara para turistas. Há duas moedas em Cuba, os CUC, a moeda para o turista, em que 1CUC=1USD, e os CUP, a moeda dos cubanos, em que 25CUP=1USD. É possível comer por um dia, em CUP, por menos de 1$. Já em CUC, uma ida a um restaurante fica sempre no mínimo por 10$. Um quarto duplo num hotel (todos do estado) custa 200$ por noite. Pode-se sempre ir para as “Casas Particulares”, que geralmente custam 25$ por noite, por quarto.
Há autocarros para cubanos (monta gente, como uma vez ouvi) e autocarros para turistas. Enquanto que nós poderíamos entrar nos restaurantes cubanos e pagar com a moeda deles, nos autocarros é impossível. Se viajam num grupo de quatro, um Taxi Colectivo pode ficar mais barato. Podem também tentar encontrar outros turistas que tenham o mesmo destino e ir juntos. Nós fizemos isso entre Viñales e Trinidad. Ficou apenas 2$ mais barato, mas fizemos o trajecto em 7horas em vez das 10horas que o autocarro levava e o taxi leva-nos de porta a porta dos hoteis/casas particulares.
Quase todos os carros em Cuba são taxis. Em Havana os carros antigos fazem percursos definidos, como os autocarros. Paga-se 10cent e pode-se fazer esses percurso. Claro que no centro da cidade o que eles vão tentar vender é um tour de uma hora, num carro lindo dos anos 50, por 10-30$…
Também é possível contratar alguém que nos leve a determinado lugar para passar o dia. Essa pessoa leva-nos, espera todo o dia por nós e no final do dia traz-nos de volta. Foi isso que fizemos no nosso primeiro dia em Cuba, com os nossos amigos cubanos. A Made, a minha companheira de casa, vive em GÜINES, a cerca de uma hora de Havana e foi aí que ficámos todas as noites em que visitámos Havana. Aqui turistas é coisa que não há, por isso as ruas e casas estão degradadas, uma arquitectura colonialista francesa que foi deixada por cuidar há muito tempo, mas que ainda assim tem o seu encanto.
 Mas no primeiro dia fomos então a GUAMÁ (dia 1)
Uma zona costeira no sul da ilha, na província de Matanzas, onde há um santuário de crocodilos, por onde começámos. Foi interessante ver os diferentes estágios de crescimento destes répteis e acabar o dia na praia, praia esta desconhecida dos turistas e cheia de famílias cubanas com as suas cervejas Bucanero e mojitos. E obviamente um azul turquesa maravilhoso! Mas sinceramente só lá fomos para acompanhar os nossos amigos, este lugar não é de todo imperdível.
HAVANA (dias 2, 3, 13 e 14)
No total passámos quatro dias em Havana (ou seja, a ir e a voltar de Güines todos os dias). Havana é por onde passam todos ou quase todos os turistas, por isso há um esforço maior por parte do governo para a manter agradável e cuidada. Passámos por muitos edifícios em recuperação, como o caso do Capitólio, edifício muito presente no skyline da cidade pela sua cúpula branca. É também aqui que menos se sente a grande necessidade do povo cubano. É também interessante entrar em espaços do estado ou espaços privados, ver a diferença de tratamento, o empenho que põe quando as coisas são suas!
Visitámos todo o centro histórico, visitámos os vários fortes de ambos os lados da baía (para cruzar a baía há barcos que custam apenas 0,5CUP, ou seja 1/50$), caminhámos pelo famoso Malecón (a marginal cheia de vida), visitámos a catedral e o conhecido bar “La Bodeguita del Medio”; uma loja de tabaco, de uma das fábricas, tal como a loja do museu de chocolate. Visitámos também o Museu da Revolução, que penso que é um sítio imperdível para quem quer perceber mais sobre a história recente de Cuba e o estado actual da sua política e economia.
VIÑALES (dias 4 e 5)
Durante a nossa estadia em Cuba, passámos metade do tempo fora de casa da Made, para explorar outros lugares da ilha. O primeiro e o meu favorito foi o vale de Viñales. Viñales fica na região de Pinar del Rio, no oeste da ilha e é conhecida pelas suas plantações de tabaco e os seus estranhos montes a que eles chamam de mogotes. Para lá chegar apanhámos um autocarro da Via Azul desde Havana e ficámos duas noites na Casa Particular Odalys e Reynaldo (tel: +53 48696937; morada Calle Salvador Cisneros, 9A, caso lá queiram ficar, recomendo muito, incluindo as refeições). A primeira coisa que fizemos foi um tour em cavalo pelos vales. Os tours custam 5$ por hora, nós optámos por fazer cinco horas, guiados pelo nosso simpático guia, el Flaco.  Para além do passeio pelas plantações, vales, grutas e montanhas, incluía ainda uma visita a uma plantação de tabaco e a outra de café, a primeira mais interessante que a segunda.
Depois do belíssimo jantar na nossa Casa Particular aproveitámos para ir até ao Polo Montañez para dançar um pouco de salsa e no dia seguinte decidimos caminhar pelos vales… mas sem saber que íamos caminhar muito mais do que o esperado – há a opção de alugar bicicletas, mas depois de cinco horas a cavalo, nenhum rabo aguenta andar de bicicleta. Fomos até ao Mural da Pré-História, um mural pintado nas montanhas, nos anos 60, que representa a evolução das espécies em Cuba. Perto do mural encontrámos um senhor que nos falou da Casa de los Aquaticos, uma família que acredita que tudo pode ser curado com água, e que deveria ter uma das melhores vistas de Viñales. Disseram-nos que o caminho era óbvio, nós não o encontrámos, já não tínhamos quase água, queríamos desistir, até que finalmente a encontrámos e aí nos deram água (se era especial, não sei). A vista era diferente, uma vez que era do alto da montanha, mas tinha tantas árvores à frente que também não se via assim tanto. Voltámos para casa, depois de 20km caminhados e uma aventura para contar! Foi o meu dia preferido em Cuba!
TRINIDAD (dias 6 e 7)
Como referi em cima tomámos um Taxi Colectivo para Trinidad. 7 horas de viagem depois chegámos a esta colorida cidade entre as montanhas e a costa da região de Sancti Spiritus. Deixaram-nos na nossa Casa Particular, esta já mais parecida a um hotel, com vários quartos em fila e uma zona de refeição só para hóspedes. Como ainda tínhamos cerca de duas horas de luz, decidimos ir dar um passeio pela zona, uma volta de reconhecimento, até nuvens bem escuras ameaçarem o céu e voltamos para a Casa mesmo antes da tromba de água cair. Nessa noite fomos até à praça central, comprámos uma piña colada a preço de turista e depois o Jorge decidiu perguntar aos locais onde é que eles compravam as bebidas deles. Assim arranjámos uma garrafa de rum a óptimo preço e, já sentados na escadaria da Casa da Música, conhecemos dois argentinos, que ainda hoje são nossos amigos, e com quem partilhámos rum e histórias. Foi com eles que passámos o nosso segundo dia em Trinidad, mais propriamente em Playa Ancón, a praia mais próxima, para onde fomos de taxi. Isto depois de ainda subirmos a colina mais próxima, para ver a vista desde o ponto mais alto da redondeza, e de subir outro ponto, a torre do Palácio Cantero, para ver a cidade desde cima. Playa Ancón é um local muito tranquilo, uma praia de areia branca e água turquesa. Passámos aí todo o dia e à noite fomos à Casa de la Trova (música cubana de intervenção), aproveitar a nossa segunda e última noite em Trinidad, com os nossos amigos, antes de cada casal seguir para seu lado, eles para um resort num Cayo (ilha) qualquer no norte, nós para…
CIENFUEGOS (dia 8)
Chegámos a Cienfuegos cedo, uma vez que dista a apenas uma hora de Trinidad. Fomos directos à Casa Particular de Inés Maria (+53 5343513788; Calle 41 #5601, Altos entre 56 y 58; inesmarialeon@yahoo.es), perto da estação de camionagem. Cienfuegos é conhecida pela Paris de Cuba… isto se Paris só tiver um quarteirão, porque tudo o resto estava bastante degradado. Não precisávamos de ter ido a Cienfuegos, teria preferido ter ficado mais um dia em Trinidad ou ir um dia mais cedo para o nosso destino seguinte. Vimos o centro numa hora. Gostei do teatro Tomas Terry.
Decidimos apanhar um bicitaxi para a Punta Gorda, onde achávamos que estavam as praias. Não estavam mas no caminho vimos muitos palácios neo-clássicos, alguns de influência árabe. Na Punta conhecemos um velho cubano que já tinha participado nos Jogos Olímpicos e tido a oportunidade de sair muitas vezes de Cuba, através de campeonatos, coisa que a maioria dos cubanos não tem. Agora já estava reformado e tinha um restaurante. Depois de uma hora de conversa regressámos a pé para casa, começou a chover, depois parou. Assistimos a um pôr do sol incrível desde o terraço da Casa de Inés Maria, a nossa host preferida, com quem tivemos longas conversas sobre política e música. Também nessa noite tivemos a sorte de estar a passar um concerto ao vivo na televisão do cantor de trova Silvio Rodriguez, que estava a dar um concerto no Panamá. Um dos sonhos do Jorge era ir a um concerto dele, isto foi o mais parecido que se pôde ter, e sem dúvida uma noite inesquecível!
VARADERO (dias 9 e 10)
Na Europa temos a noção que Varadero é mais uma cidade turística, cheia de resorts, e que as únicas pessoas cubanas que por lá andam são os que trabalham nos hóteis. Pois, se calhar até é assim na pequena zona hoteleira, mas Varadero é enorme e a maior parte da praia está cheia de cubanos, que estão de férias ou de passeio, exactamente como nós.

Ficámos uma noite em Varadero, mas dois dias inteiros. Esta Casa Particular foi a que gostei menos, não pela casa em si, que era óptima, mas porque os donos, para ganharem dinheiro com isto, abdicavam da sua própria casa e dormiam os dois num beliche improvisado, dentro da dispensa.

A praia era maravilhosa! Um areal extensíssimo, palmeiras por todo o lado, até nos esquecíamos que havia uma cidade atrás de nós. À nossa frente o tom turquesa do mar das Caraíbas! No dia seguinte à nossa dormida veio a Made, com toda a família, para passar o dia na praia, connosco e levar-nos de regresso a Güines ao final do dia. Varadero foi o lugar perfeito para terminar as nossas férias em Cuba, deu para relaxar e esquecer-nos um pouco de todo o peditório.

P.S. Para quem está a fazer contas aos dias, ainda ficámos um dia em Güines, a descansar e a conhecer melhor a família da Made (o 11º dia, se não contarmos o primeiro como o dia de chegada). Tivemos ainda a oportunidade de ir a um “supermercado” cubano, experiência bastante interessante. Agora e já com alguma distância, penso que esta foi das viagens que mais me fez crescer e pensar nas diferenças sociais e políticas e como isso influencia a vida de uma comunidade.