O Gonçalo tem 27 anos, é IT Manager e foi para Maputo com a namorada, Débora, há cinco anos. Diz que decidiu sair de Portugal pelo desafio profissional pois no nosso país, a nível tecnológico, existe muito pouco por fazer, ao contrário de Moçambique que é um país em forte desenvolvimento. Cinco anos já é um óptimo tempo para nos falar da capital desta ex-colónia portuguesa, que me diz muito, pois é a terra da minha família materna, mas onde infelizmente nunca tive oportunidade de ir.

Gonçalo, que expectativas tinhas de Moçambique antes de chegar? A realidade é parecida com essas expectativas?

Nenhuma expectativa se avizinha à entrada em países ditos de 3º mundo! Tinha a expectativa de uma cidade menos desenvolvida (salvo seja) a nível comercial, o que não acontece! Todos os cantinhos “e buracos” servem para ter uma palhota ou até mesmo uma barraquinha onde tudo se pode vender. É engraçado como se pode comprar no mesmo sítio, uma peça de fruta, um corta unhas e um isqueiro. O mercado é muito vasto e tão pouco exigente que “qualquer um” consegue abrir o seu pequeno negócio.

Pensava que Maputo era uma cidade menos suja, menos caótica e bastante menos desenvolvida. Aqui, embora 3º mundo, onde fazer um simples check up à nossa saúde pode custar “um balúrdio”, já se tem de tudo, tal como na Europa! Mas não era bem assim quando cheguei em Agosto de 2012.

Do que mais gostas em Maputo?

Da cidade muito pouca coisa, da periferia o mesmo que gostava em Portugal no sítio onde cresci e vivi até aos meus 15 anos, na zona de Sintra: sossego, zonas verdes a perder de vista! A calma que se encontra ao redor da cidade é ótima! As estradas a perder de vista com paisagens lindíssimas!

São imensamente frequentes os espaços onde, ainda que ao redor da civilização, podemos desfrutar de um espaço verde, calmo e sossegado para “beber um café” (ou outra coisa, para quem não bebe café, como é o meu caso).

E do que menos gostas?

A poluição e a degradação de uma cidade com tamanho potencial é algo digno de admiração. O trânsito é caótico, Maputo tem uma densidade populacional ENORME e tem apenas duas entradas principais para a cidade, é inconcebível.

Como caracterizas os moçambicanos?

São pessoas socialmente evoluídas, mais que nós, portugueses. Facilmente se dão e em momentos de aflição ajudam, MAS…ao mesmo tempo o mesmo cenário pode ser apenas por interesses financeiros.

Como é um dia normal para ti aí?

De segunda a sexta-feira o normal é levantar-me cedo, fazer o meu batido, e assistir a um nascer do sol imensamente glorioso, digno de África! Saio de casa, umas vezes directo aos escritórios, outras não! Ora, quando há tempo, regresso ao escritório para almoçar e dar continuidade à jornada. Quando assim é, normalmente saio “cedo” e consigo ir apreciar o ar puro com uma corridinha bem perto de casa, pelos bananais. Quando assim não é, chego tarde e não resta tempo para treino nenhum! Quando a agenda permite, faço uma partida de ténis, dou uma corrida ou vou mesmo até ao ginásio.

Aos fins de semana nada é certo! Os programas passam por sair com amigos para jogar snooker, comer um sushi, imensas vezes fazer um churrasco bem português, ou então, entre a casa de uns ou de outros, passar tardes de convívio, como já vejo acontecer pouco em Portugal. Rodeados de boas conversas, alegria e imensas vezes cartas e jogos de tabuleiro! Em tempos em que realmente faz um tempo tipicamente africano, em que nem a brisa do vento nos safa, durante a semana, depois do treino, e muitas vezes durante o fim de semana, dá-se um saltinho à piscina!

Se alguém fosse visitar Maputo o que sugerias ver e o que comer e onde?

Ver:

  • A colecção de fetos de elefante, dentro do Museu de História Natural e Ciência,  é único! Tem, como o nome indica, elefantes ainda em período de gestação. Digno de se ver!
  • O Mercado do Peixe perdeu algum encanto, mas escolhendo uma boa mesa, afastada da confusão, pode-se  desfrutar de um bom peixe fresco.
  • As quedas de àgua da Namaacha são um sítio, além de giro e calmo, fora do expectável num pais de tanta savana e calor.

Comer:

  • Definitivamente não ir a Catembe, a margem oposta da baía de Maputo, é algo imperdoável! O restaurante Diogo’s tem, dizem os entendidos, e eu…um dos melhores camarões grelhados do mundo!
  • O Kalus Esplanade é um típico sítio onde, no meio do caos da hora de almoço, se consegue uma maravilhosa picanha na brasa, escolhida na hora.
  • Dos pratos típicos moçambicanos existem infelizmente muito poucos sítios, o melhor mesmo é ou ter connosco uma empregada boa de cozinha ou conhecer-se alguém que tenha algum “local” como amigo e possa dar a experimentar os fantásticos carís (caril não é aquele pó amarelo que conhecemos, mas tudo o que é molho e tempero). O caril de amendoim, de camarão e mandioca são três coisas óptimas de se provar, estando em Maputo!
  • O restaurante Aska na entrada da Marginal ou Clube Naval, já na marginal, tem um sushi muito bom!

 

Tens algumas dicas para nos oferecer de como poupar dinheiro em Maputo?

Para poupar algum dinheiro em Maputo o bom mesmo é partilhar o transporte porque o público fica um pouco fora de opção, embora já tenha experimentado apenas uma vez, pois não considero um meio de transporte seguro, por vários factores: 20 pessoas numa carrinha de 9 lugares, falta de manutenção das viaturas, condução caótica e desrespeito completo pela segurança de TODOS. A alternativa ao grande trânsito de Maputo é o Chopela (conhecido como TukTuk em Portugal). É um pouco mais caro que o Chapa (autocarro/minibus) mas mais barato que o Taxi. As compras devem ser feitas nunca nas grandes superfícies comerciais à excepção das massas, arroz, azeite entre outros poucos. A carne e o peixe em estabelecimentos próprios, os frescos, frutas e legumes devem ser adquiridos na rua! (com cuidado para não nos deixarmos enganar)

Qual a maior “tourist trap” da cidade?

O Mercado do Peixe, mas já não é o mesmo desde 2015! Tem realmente um peixe fresco maravilhoso, mas a inquietação das pessoas que se encontram no local, a tentar vender as suas coisas, torna-se um incómodo grande se não soubermos dizer não! Ou escolhemos um bom lugar e pode tornar-se um ótimo sítio para estar e comer, ou então é precisamente o contrário.

Em que zonas da cidade devemos procurar hospedagem e porquê?

Na cidade se não houver nenhum “limite” no budget, temos o hotel Radisson Blu, o hotel Cardoso, e o hotel Polana. Nestes sítios, independentemente de serem caríssimos, o serviço naturalmente acaba por ser bom e a qualidade dos quartos e do atendimento é aquilo a que estamos habituados.

E uma vez que nos dizes que do que mais gostas é de sair da cidade, que zonas, não muito longe, sugeres?

Ao redor da cidade temos os melhores sítios. Temos, na Macaneta, uma praia normalíssima de areia branca com umas palhotas engraçadas, um restaurante à beira rio num lugar muito sossegado! Ideal para relaxar. A Macaneta é uma ilha onde se pode ir de carro, passando o batelão. Fazem-se perto de 5kms de carro em estrada de areia, embora pouca, até chegar a um dos resorts!

Um pouco mais longe, a cerca de 200km para sul, já quase na fronteira com a África do Sul, temos a Ponta de Ouro. A Ponta do Ouro é uma viagem fantástica pelo espírito africano: buracos, terra castanha e paisagens a perder de vista! No caminho temos a oportunidade de passar pela reserva dos elefantes. Se não quisermos parar e entrar ainda poderemos ter a sorte de ver, ao longo do caminho, alguns animais como macacos, elefantes, girafas, entre outros. Do outro lado da reserva existe uma praia linda, a perder de vista, quase deserta. Se continuarmos chegamos à tal Ponta do Ouro, onde a acomodação não é barata mas a gastronomia sim. Já passa por muitas coisas típicas de Moçambique, ao contrário de na grande cidade. Encontramos óptimos pratos de marisco e os tradicionais caris de camarão, de repolho, de amendoim, entre outros. Água azul e limpa, ao contrário de nas praias de Maputo cidade. Temos que ter algum cuidado com as “garrafas azuis”. São um bichinho pequeno, tipo mini alforreca, que nos deixam uma sensação de queimadura e comichão muito chata.

A cerca de 150km para norte temos o Bilene. Para lá é uma viagem calma, típica da Europa. Uma estrada normal, onde podemos ter um pouco do melhor de Moçambique (que infelizmente só começa fora de Maputo, em Inhambane!). A acomodação fica cada vez mais cara quanto mais perto do mar. Temos a praia/lagoa de um lado, bem como, se atravessarmos a mesma de barco por uns meros 200 a 300 meticais (5€), podemos dar um mergulho no verdadeiro oceano Índico, quente e limpo! Se estivermos com um razoável 4×4 podemos, ao chegar ao Bilene, ir para a ponta interior da Lagoa, para o KaiPraia Acommodation, onde cada noite só custa cerca de 16€. Um pequeno quarto com casa de banho, cá fora uma cozinha pública e pronto. Ar puro!

Finalmente, de onde moro, na Massaca, Boane, uma localidade na periferia de Maputo, a cerca de 30km do centro da cidade, temos, a 5km de carro, a Ara Sul. É um complexo de palhotas muito giro, onde temos um óptimo restaurante, dois campos (um de tenis e um de futebol), bem como um campo de volei, também na rua… Mais uns kms à frente temos a Barragem dos Pequenos Libombos, fantástica para um tradicional picnic.

 

Quais os melhores locais para sair à noite?

Depende do que se gosta! Quem gosta de passar um bom tempo num Karaoke deve ir definitivamente ao Elvis Pool Bar que fica perto de uma das entradas da cidade! Ainda perto do Elvis Bar, quem quer apenas beber um copo pode ir ao Bar Lounge 1908, mesmo ao lado do Hospital Central de Maputo. (Bem a calhar para o caso de quem bebe bem mais do que um copo). Quem gosta de discotecas deve ir até ao final da marginal onde encontra o Coconuts, por exemplo.

Qual o teu lugar preferido (bairro, edifício, café, livraria…) ou actividade preferida?

Na cidade gosto do bairro da Sommerschield, sendo muito sossegado mas sem nada para fazer.

Fora, gosto mais da Matola. Se Maputo fosse Lisboa, Matola seria Sintra. Mais calma, menos trânsito, mais espaços verdes.

O que responderias se alguém te perguntasse “Não se pode sair de Maputo sem…?”

Ir aos Diogo’s (uma vez que sushi e picanha há em muitos sítios pelo mundo), ir ao museu dos elefantes e definitivamente não podem sair de Maputo sem assistir a uma peça de teatro! A realidade Moçambicana representada por actores de qualidade fantástica.

Muito obrigada Gonçalo, pela dedicação que deste a este pedido e por aceitares os meus pedidos todos e espero que fiques por aí mais uns anos, uma vez que tão cedo não terei a oportunidade de ir aí 🙂