Em 2016 fui a Marrocos pela primeira vez. Os estrangeiros que não precisam de visto para Portugal podem estar em Portugal por um período de três meses, renovável por mais três meses e depois têm de sair do espaço Schengen e voltar a entrar para que o tempo comece a contar do zero. Como sabem o meu marido é mexicano e quando chegou a Portugal pensámos em todas estas questões, antes de decidir casar e pronto, e marcámos sete dias em Marraquexe, onde chegámos apenas com a morada do nosso Riad e sem plano algum! Percebemos imediatamente que sete dias na cidade ocre ia ser demasiado tempo, pelo que começámos a ver as excursões que o próprio hotel oferecia.

A que nos chamou mais a atenção foi a do Tour ao Deserto de Merzouga, três dias, duas noites, tudo por cerca de 80€ por pessoa, com tudo incluído excepto almoços e bebidas (Contem com 15-25€ por dia por pessoa para estes gastos pois obviamente nos levam a lugares turísticos, um pouco mais caros que o nível de vida no país)! Atenção: Online encontro o mesmo tour por 280€ por pessoa e outros parecidos a partir de 115€, pelo que aconselho comprarem directamente em Marrakesh, não só vos fica mais barato como provavelmente ajudam os locais, que recebem uma comissão por isso 😉 Marcámos então o tour para o nosso quarto, quinto e sexto dia de viagem. O primeiro, segundo e terceiro, passámos em Marraquexe e foi assim.

Dia 1

Acordámos cedo e foram-nos buscar ao Riad para nos levar para o ponto de encontro, uma rua perto da praça Jemma el Fna. De aí partem quase todos os tours e aí dividem-nos por carrinhas, por língua. O nosso grupo era de onze pessoas: dois holandeses, duas francesas, dois americanos-coreanos, duas chinesas, um tunisino, um mexicano e uma portuguesa 🙂 O primeiro dia começa com a travessia dos Montes Atlas. Nunca pensei ver uma cadeia montanhosa tão seca e tão verde ao mesmo tempo! Em qualquer lugar por onde passe um fio de água, há vida! A primeira longa paragem foi na cidade fortificada de Aït-Ben-Haddou, Património da Humanidade pela UNESCO, um kasbah bastante famoso por ser palco de vários filmes de Hollywood, incluindo o Gladiador ou a Múmia e até alguns cenários de Game of Thrones. Já só quatro famílias vivem aqui, sendo que a maioria da população vive agora na nova cidade, do outro lado do rio, que naquele dia estava seco. O almoço foi ali mesmo na cidade, no restaurante L’Oasis Dor, típico restaurante para grupos de turistas. Continuámos caminho com uma breve passagem pela cidade de Ouarzazate, que fiquei cheia de pena de não conhecer, pois quando li a descrição do tour achei que íamos ter tempo na cidade, mas para o nosso guia era igual à anterior… Chegámos finalmente à região do Gorges du Dadès, montanhas nuas de terras vermelhas, que contrastam com o verdíssimo dos vales, onde os locais trabalham nos campos, colhem cereais e outras plantações, adiantam trabalho antes que chegue o Ramadão! Foi aqui que dormimos e jantámos, no hotel Le Vieux Chateau du Dadés, um pequeno hotel junto a um rio, entre as montanhas, bem mais agradável do se esperava.

Dia 2

O “excitex” do segundo dia era a chegada ao deserto, algo que sabíamos que só ia acontecer ao final do dia. Pelo caminho podíamos apreciar a vista, a vida dos marroquinos destas cidades e aldeias menos conhecidas e as paragens com que o guia nos presenteava. A primeira foi na cidade de Tinghir, para visitar algumas plantações e o seu Kasbah, onde iríamos visitar uma fábrica artesanal de tapetes, onde não só usam lã de ovelha mas também de camelo! Seguimos para as Gargantas do Dadès, um altíssimo desfiladeiro que termina num rio. Pelas fotografias que tinha visto antes, imaginava um lugar mais vazio. Estava cheio, não de turistas, mas de locais – famílias de piquenique, crianças a brincar na água, algo como a praia da região. Também aqui pensei que teríamos mais tempo, que teríamos até tempo para um banho refrescante, mas tínhamos de continuar caminho! O almoço do segundo dia foi o melhor, um terraço cheio de plantas, uma mesa enorme para o grupo. Infelizmente não memorizei nem o nome nem o lugar. Depois do almoço a paisagem começou a mudar, a aproximar-se mais a um deserto, primeiro de terra seca e finalmente de areia. Chegávamos ao deserto de Merzouga, uma das portas do Saara! Como iríamos acampar no meio do deserto, parámos num hotel onde ficam as carrinhas, para eventualmente trocar de roupa e preparar uma mochila apenas com os items essenciais para a ida, a noite e o regresso. Uma caravana de dromedários esperava-nos para nos levar por hora e meia pelas dunas douradas de Merzouga. Este deserto na verdade não está ligado ao Saara, é uma espécie de oásis de areia e por isso o fim das dunas está quase sempre presente no horizonte. Ainda assim foi um dos lugares mais impressionantes onde vi o pôr do sol. Chegados finalmente ao acampamento, é tempo de jantar (aí a comida infelizmente era horrível, insossa), os rapazes ainda tentam dar um show de dança e cantorias, mas o que nós queríamos mesmo era que apagassem as luzes para poder ver as estrelas! Escusado dizer que toda a gente dormiu no exterior 🙂

Atenção, levar power bank ou baterias extra para a câmara, pois não há electricidade. Também não há casa de banho, pelo que uma lanterna não é mal pensado – não, não é um acampamento de luxo, dorme-se nuns colchõezinhos no chão 😉

Dia 3

No terceiro dia acordávamos antes do nascer do sol, arrumámos tudo e em cinco minutos já estávamos novamente em cima dos dromedários. Depois de hora e meia “a camelo” no dia anterior, o regresso não foi nada confortável, o rabo doía horrores! Parámos a meio caminho para ver o nascer do sol do topo de uma duna e continuámos até às carrinhas – eu desisti quase no final e terminei o caminho a pé. Tínhamos 11 horas de caminho pela frente para regressar a Marraquexe, sem paragens excepto para almoçar ou comprar água. Na primeira parte do caminho quase todos dormiam, uma vez que o caminho era o mesmo que no dia anterior. Pelas fotografias do folheto do tour, passávamos por aquela estrada em S, super íngreme, nas montanhas, famosa deste passeio. Se passámos, ninguém nos acordou ou avisou. Parámos em Oarzazate para almoçar, num belíssimo restaurante com vista para a cidade, La Kasbah Etoile. Novamente não visitámos a cidade… Quando chegámos aos Atlas já estavam todos super despertos, a tirar montes de fotografias! Chegámos a Marraquexe por volta das 18h, onde já só jantámos e fomos para a cama, pois foram três dias super intensos!

Realmente achei o tour espectacular! O grupo era super simpático e viajavam na mesma onda que nós, o que ajuda muito! Foi a minha terceira vez a camelo e a mais espectacular, por ser tão longa, embora no dia seguinte tenha sofrido um pouco por isso, e por aquele pôr do sol espectacular! Tive só pena de não visitarmos Oarzazate mas foi tão especial atravessar toda esta parte do país, ver como as pessoas vivem, comer a sua comida, ver e fotografar as tão variadas paisagens! Acho que é um tour que toda a gente que vai a Marraquexe deveria fazer.